terça-feira, 22 de julho de 2008

Um pedido de desculpas...

Depois daquela primeira briga, a troca de correspondências entre o casalzinho de jovens namorados de uma cidade do interior cessou. Ainda buscavam cartas junto ao carteiro, nas caixas pregadas nos portões de suas casas, mas nada encontravam.
O motivo da briga havia sido uma carta ciumenta, cheia de mágoa, que o rapaz remetera à amada durante uma longa viagem em que a mocinha acompanhou os avós. Na missiva, um monte de palavras repletas de fel; de um amargor que em nada combinava com a leveza e a beleza daquela história que haviam construído.
A resposta da moça foi ainda mais dura. Lacônica. Fria como só as moças magoadas sabem ser.
O jovem acusou o golpe. Depois de alguns dias, decidiu que não queria que as coisas terminassem de um jeito feio, triste. Aliás, não queria que terminassem. Foi então que pegou uma folha bem clarinha, a caneta de escrita fina e, caprichando na caligrafia, pôs-se a escrever:


"Posto que sou humano, carne, osso, alma e sentimento, digo que não são raras as vezes em que erro. Por impaciência, por imprudência, por impertinência...por uma série de defeitos que talvez nunca tenhas enxergado graças ao meu esforço para te dar sempre o que de melhor te pudesse oferecer. E, creia, nunca o fiz por vaidade; ou para mostrar-me mais bonito. Se o fiz foi para retribuir tudo o que de bom você sempre soube me dar.
E aí, errei ao querer que esse tudo fosse cada vez mais. Errei involuntariamente, pois não se comanda com botões as coisas do coração. Errei de um jeito até inocente, fulminado pelos teus olhos translúcidos, por teu beijo doce e pela voz que sempre ouvi como se fosse a mais linda das melodias.
Te quis tanto mais que não soube digerir a distância, o sumiço, a saudade. Pesou ver-te longe demais, sobretudo quando tão perto estavas; um cruel paradoxo do perto demais quando longe, distante demais quando próximo.
Senti falta de um sinal de vida qualquer que fosse. E que não veio. Talvez aí tenha errado de novo, mas foi esse motivo que, certo dia, me fez pensar que a admiração que tenho por ti havia diminuído. Mas, mesmo assim, em momento algum duvidei de teu caráter. Assumo: te amo demais para te enxergar como uma pessoa menos bonita. Porque tenho a certeza de que nunca houve entre nós encenações, representações e falsidades que tanto espaço ocupam nas mais diversas relações.
Apenas lamentei a sorte que tive. Ou que me faltou...
Errei e assumo. E digo-te que por amor também se erra. E peço-te, meu anjo, que não deixes tão bonita história se perder por conta da única carta amarga que lhe escrevi. Prefiro que me lembres por tantas outras, onde sempre procurei traduzir toda a beleza do imenso amor que tenho por ti..."


Terminou de escrever com os olhos marejados. Pôs a carta num envelope, selou e correu para se assegurar de que chegaria ao seu grande amor ainda naquela data...

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