quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Non habemus Papam!

Sou de uma geração que viu um papa carismático e midiático permanecer no trono de Pedro até o fim da vida, quando seu sacrifício era mais que evidente. João Paulo II, fragilizado pelo Mal de Parkinson, foi até o fim no papel de sucessor de Pedro.
Hoje, ver o helicóptero da república italiana sobrevoando Roma e levando o Papa para longe do Vaticano, foi uma imagem forte. Há algo de dramático nessa desistência, algo que permanece insondável para quem está fora dos salões onde são decididos os rumos da igreja. Há, também, algo de fascinante na renúncia de Bento XVI - ineditismo, provavelmente - que fez, como tem noticiado a mídia italiana, o agora Papa Emérito se tornar popular como nunca havia sido entre os romanos.
Abatido, com a voz enfraquecida e o rosto afinado pelos quilos perdidos nos últimos tempos, Joseph Ratzinger adquiriu as feições de avó que seu antecessor sempre ostentou. Parece mais humano, mais próximo. A feições, antes tão duras, soam dóceis. As palavras, mais carinhosas.
Entre as milhares de pessoas que resolveram se despedir do papa, também foi possível notar reações mais calorosas. Se esse foi um pontificado morno, teve um fim mais apaixonado. Sim, ao que parece, Bento XVI só conseguiu se aproximar verdadeiramente dos seus fiéis no momento em que resolveu deixar vago o posto de líder dos católicos...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O dia em que ouvi as histórias e canções de Bibi Ferreira...

No espetáculo, Bibi Ferreira canta em cinco idiomas, emociona e diverte a plateia
Quando surge no palco caminhando vagarosamente ao som de "Malandragem" - canção eternizada na voz de Cássia Eller, na qual ela questiona se ainda é uma garotinha - Bibi Ferreira bota a plateia no bolso. Ovacionada, dona da cena, a atriz, do alto de seus noventa anos, demonstra, desde o primeiro instante que olha para a vida - e para si mesma - com humor.
Humor acido, quando diz que no século dezessete tinha "treze ou catorze anos". Humor ácido utilizado novamente quando uma espectadora grita o ano em que uma de suas peças esteve em cartaz e, de primeira, Bibi devolve: "Você sabe a data? Mas essa coisa de data compromete a gente...", para risadaria geral.
Em "Bibi, Histórias & Canções", o público é conduzido por um passeio pela carreira dessa que é uma das maiores estrelas do teatro nacional. Se não for a maior, Bibi é a mais versátil: atua, canta, dirige; tudo com maestria exemplar! Nesse espetáculo em que passeia por épocas, países e gêneros diferentes, a atriz/cantora também navega por cinco idiomas: canta em inglês, espanhol, italiano e francês, além do português, língua materna. Forjada na escola dos palcos, a estrela tem pleno domínio de cena e demonstra que o tempo não lhe roubou o frescor. Nem no canto e nem no humor. Graciosa, canta temas de musicais americanos que despertaram seu encanto por Hollywood. Emociona ao unir canções de Elizeth Cardoso num medley que remete aos anos de ouro do rádio brasileiro. Seduz ao som dos tangos argentinos, apontados como herança musical da família. E arranca gargalhadas ao cantar árias consagradas com letras de clássicos da MPB. Tudo para voltar a emocionar logo em seguida, interpretando trecho de um de seus maiores sucessos, "Gota d'água". Outra ovação. Sem falar em Piaff, trunfo estrategicamente alocado no fim do roteiro.
Saí do teatro contente, leve. Que bom ver Bibi em cena! Que bom rir e me emocionar com as histórias e canções dessa estrela primeira da nossa arte! Bibi é o teatro brasileiro em sua melhor expressão, é o Brasil de que mais podemos nos orgulhar, é a vitória do talento, do dom, do saber ser e fazer. Ela não parece atriz: é. Das maiores! Não parece cantora: é, das mais hábeis ao interpretar. Não parece jovem, mas brinca em cena. Dá até pra pensar que, de algum jeito, Bibi Ferreira tem mesmo treze ou catorze anos...


Mudança infinita


Tenho calma. Em 32 anos, a vida me ensinou que tudo é transitório. Se é ruim saber que não tardará até que o riso dê lugar a um novo pranto qualquer, é fonte de alívio estar certo de que também as futuras lágrimas já brotarão condenadas ao fim. 
As coisas mudam. As alegrias mudam. As dores mudam. Os desafios mudam. As sensações mudam. 
Nós mudamos. 


Toda hora, todo tempo.
Tenha calma. Viver é um transformar-se sem fim. E, com fé, a mudança sempre há de ser pra melhor...

Salve nós!

Novela das nove tem a menor audiência dos últimos 12 anos
Li no UOL que a autora da novela das nove anunciou que vai reparar, num dos próximos capítulos, mais um furo de sua narrativa, prontamente captado pelos telespectadores. 
Glória Perez já fez belos trabalhos na TV. São parte da história da teledramaturgia obras como "Desejo", "Hilda Furacão", "Carmen" (da extinta TV Manchete); e mesmo trabalhos mais recentes, que não têm minha predileção, mas tiveram grande repercussão e audiência, como "O Clone" e "Caminho das Índias". Em "Salve Jorge", a autora demonstra estar numa baita entressafra. A trama não é das mais inspiradas, os personagens, pouco carismáticos e tudo parece inverossímil demais. Gloria desaprendeu a escrever novelas? Claro que não! Mas acho que o público aprendeu a acompanhar esses folhetins de outros modos... 
Com a internet, um furo numa cena, que antes poderia jamais ser notado, fica eternizado com um print screen. Com tudo online, é fácil dar uma busca e ver se o milionário já conhecia a protagonista ou não. E, sobretudo, em tempos de vida real tão inacreditável, algo que fuja do razoável soa como uma agressão ao espectador, que gosta de se sentir "malandro", caçando furos. "Avenida Brasil", de tom tão realista, também não escapou dessa armadilha: todos ficamos indignados com a ausência de um pendrive para que Nina armazenasse as fotos comprometedoras de Carminha e Max. A diferença é que foi um fato isolado. Um deslize. "Salve Jorge", ao menos até aqui, tem parecido um amontoado deles...

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O encontro...


É quando os olhos se miram e se reconhecem. É quando o som da voz parece diferente de todos os outros, mais gostoso de ouvir que todos os outros. É quando o abraço é mais que abraço, é nó, é amarra, é laço! É quando a conversa inebria, flui solta, como as águas do rio em busca do mar. É quando, uma vez unidas, duas bocas parecem de volta ao porto inicial, como se fossem uma extensão da outra e, por conta disso, só unidas tivessem razão de ser...
É quando tudo isso acontece. Quando tudo é assim, gostoso assim, que se pode ter a certeza de ter havido um verdadeiro encontro...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Um carnaval inesquecível...

Se havia alguém mais feliz que eu na avenida o espelho meu não disse. Tomei muitos porres de felicidade, naveguei, naveguei e, mesmo longe do nordeste, fui cabra da peste. Sempre soube que sonhar não custa nada e, nesses dias mágicos, sonhei muito! Vivi uma overdose de alegria, um dilúvio de felicidade; afinal o rei mandou cair dentro da folia...
E lá fui eu...
Fui de Lapa, de Lagoa, de Gamboa. Fui de Aterro, fui de Praça XV, de Ipanema, de Avenida Rio Branco. Fui pelo Largo de São Francisco. Fui muitos! Fui mágico, turista! Voltei no tempo e brinquei de Faraó na lendária Rua do Ouvidor. Tirei onda de Nerd e peguei emprestado o Coalhada do mestre Chico Anysio. Fui esses todos. E fui alguns outros...
Fui atrás da folia onde ela estivesse e onde meus pés aguentaram me levar. E eles foram bravos companheiros! Com eles eu trilhei caminhos de samba, de frevo, de axé. A trilha de um carnaval plural, com funk, Beatles, Mamonas, Roberto, Raul e até sertanejo! Voltei no tempo com as marchinhas que não deixam ninguém parar e parei, na chuva, pra ver a alegria do nascimento de um bloco gigante: o Bloco do Chá, que trouxe um pouco de Salvador aqui pro Rio. Uma mistura perfeita para cariocas que, como eu, têm um bocado de dendê no sangue.
Usei lentes verdes pra me fantasiar de turista. Lentes de contato que me deixaram com os olhos de meu pai. Tive grandes companhias, senti falta de gente querida, e fiz a farra valer a pena nesses dias em que a única preocupação foi me divertir.
E como eu me diverti! É por essas e outras que eu também queria que essa fantasia fosse eterna...
Te vejo em 2014, carnaval!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sobre Marília Gabriela e Silas Malafaia...

Só no fim da noite de ontem vi a entrevista de Silas Malafaia no De Frente com Gabi, exibida domingo, no SBT. Conhecedor das polêmicas que envolvem o líder religioso, não quis perder a oportunidade de ver seu encontro com a melhor entrevistadora da televisão brasileira.
Gabi perguntou de tudo: dos números envolvendo a suposta fortuna de Malafaia, recentemente divulgados pela Forbes, aos porquês envolvendo toda a eloquência com que ele tem se dedicado a combater a PEC de criminalização da homofobia. Foi uma grande entrevista, portanto, na qual o convidado se viu desafiado a explicar quais os fundamentos da dal Teologia da Prosperidade: "você tem até avião", pontuou Marília Gabriela, num dos momentos de grande tensão do programa.
Malafaia se comparou a Pelé ao dizer que os novos pastores não devem ter a ambição de repetir a sua trajetória. Vangloriou-se do trabalho desenvolvido junto a famílias precarizadas pelo álcool e por outras drogas, "sem dinheiro público", sem considerar que utiliza, para isso, dinheiro do público que lota seus cultos, compra seus livros e DVDs.
Quando o assunto foi a homossexualidade, tratada pelo religioso como "homossexualismo", apesar da tentativa de correção feita por Marília Gabriela, o que se viu foi um show de intolerância. De frente com Gabi, Malafaia berrava como se estivesse num púlpito, fazendo ecoar nos ares seu discurso repleto de contradições e interpretações rasteiras. Reduziu a proposta de lei que quer combater os crimes de ódio contra os homossexuais a uma tentativa de privilégio do Movimento Gay, desconsiderando as milhares de mortes violentas que vitimam cidadãos homossexuais ano a ano. Condenou a adoção de crianças por casais homossexuais ("tem muito casal hetero na fila querendo adotar") e profetizou sobre os casais que já conseguiram o direito à adoção, insinuando que (os problemas) "aparecerão daqui a 50, 60 anos". Gabi não resistiu e exclamou: "Você já tá julgando, você é Deus!"
Sim, é assim que Silas Malafaia se apresenta. E não só ele: muitos outros líderes religiosos também se colocam acima dos interesses humanistas para defender dogmas e preservar nichos de mercado. Um mercado da fé, bilionário, onde os homens que arrebanham multidões dormem em berço de ouro enquanto falta a cama para muitos de seus fiéis. Um mercado em que discursos radicais e extremos alimentam a violência, num caminho completamente impensável para os que acreditam na fé como uma forma de alcançar o bem estar individual e coletivo, o respeito ao próximo e, sobretudo, um convívio harmônico e pacífico. Se Jesus nos mandou amar ao próximo como a nós mesmos, duvido que aprovaria o tom raivoso empregado por tantos desses que falam em seu nome. Fé não combina com tanto ódio. Fé é aquilo que nos devia unir em torno de um bem comum, e não nos segregar.
Terminei de ver o vídeo e fiquei pensando muito. Como Marília Gabriela, também tenho dúvidas se o meu Deus é o mesmo de Silas Malafaia. A diferença é que não espero que o meu Deus o perdoe: quero mais é que lhe pesem sobre os ombros, na alma e onde mais lhe puder pesar todo o peso do ódio e do preconceito que tem ajudado a propagar nessa Terra. Amém!