segunda-feira, 28 de julho de 2014

Sobre a crise no Sindicato dos Jornalistas do Rio...


Desde as manifestações de junho de 2013, o trabalho da imprensa vem sendo muito questionado. Algo salutar, claro. Sociedade democrática é aquela que tem imprensa livre e que conta com uma pluralidade de vozes. A cobertura pensada por grandes veículos, aliás, foi muito criticada por colegas da própria imprensa, que também atentavam para uma morosidade de jornais, rádios e emissoras de TV em "ler" o que vinha das ruas. Termos como "vândalos", inicialmente utilizados amplamente, deram lugar a palavras como "manifestantes", "ativistas" e afins. Os tumultos ocasionados nas passeatas continuaram a ser mostrados nas matérias, que, no entanto, passaram a diferenciar quem reivindicava melhorias para a sociedade de quem estava nas ruas para depredar patrimônio público e/ou privado. A violência policial - que atingiu repórteres, cinegrafistas, fotógrafos e muitos manifestantes - também foi vastamente denunciada pelos grandes veículos de comunicação, bem como por aqueles que faziam, nas ruas, cobertura em tempo real do que acontecia a cada protesto.

Num desses protestos, Santiago Andrade, cinegrafista a serviço da Band, foi alvejado e acabou morrendo. O rojão, segundo a polícia, foi disparado por jovens que manifestavam. Os jovens foram encontrados, presos e acusados formalmente pelo homicídio. E esse episódio inflamou ainda mais os ânimos. A imprensa passou a ser cada vez mais intimidada a cada nova passeata, a cada manifestação. Vários colegas foram agredidos, tiveram seus equipamentos danificados. Carros de emissoras de TV foram incendiados; num confronto que, a meu ver, expõe o fraquíssimo alicerce sobre o qual está erguido o conceito de democracia defendido pelos manifestantes.
Vale dizer que, à essa altura, as passeatas já não mais reuniam 1 milhão de pessoas. Os ativistas diziam que a "mídia comercial" ou "mídia tradicional" tentava esvaziar as manifestações. O fato é que as imagens de violência praticada por jovens com os rostos encapuzados assustaram a sociedade - e, desculpem os críticos da mídia, se elas foram captadas e transmitidas, é porque eram registros de fatos! A morte de Santiago não foi fruto da maquinação de um roteirista. Os incêndios e depredações não são fruto da criatividade do departamento de efeitos especiais de nenhuma emissora de televisão, sabemos todos. Infelizmente.
Acontece que, à medida em que o clima ia se tornando mais belicoso, a atual diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio parecia mais acovardada em assumir que os profissionais da imprensa estavam sendo hostilizados, ameaçados e agredidos enquanto exerciam seu ofício. A direção do sindicato divulgou uma série de notas que mais confundiram do que explicaram. Notas em que pouco - ou quase nada - defendeu a categoria a qual deveria representar. Uma crônica de equívocos que teve o ápice na semana passada, com uma entrevista coletiva de ativistas - e pais de ativistas - realizada dentro da sede do sindicato, um dia depois de mais um episódio em que manifestantes usaram de violência para impedir o trabalho da imprensa. Dentro do sindicato que lhes deveria representar - e defender - jornalistas ouviram impropérios e ameaças de jovens e de seus familiares. Um episódio lastimável, que virou notícia e teve grande repercussão, dado o absurdo da situação.
Hoje, um grupo de jornalistas se uniu para pedir a destituição da atual diretoria do sindicato. O grupo utiliza um abaixo-assinado, instrumento legítimo, democrático e, assim, procura exercer o seu direito de ter uma direção que faça valer a confiança e que exerça, de fato, seu poder para representar os interesses da categoria. Assinei, apoio e torço muito para que tenhamos sucesso nessa empreitada.
Li algumas críticas ao momento que vivemos. Críticas ao abaixo-assinado, críticas ao fato de se querer destituir uma diretoria democraticamente eleita (acho que os críticos se esquecem de que se isso fosse ilegítimo, o país não teria afastado um presidente). Gente que respeito e admiro. Gente que defende a democracia, como eu. Mas gostaria de ver essa mesma gente se posicionar sobre as agressões aos jornalistas. Isso é democrático? É legal? É justo? Gostaria de ver essa mesma gente que cobra a retidão da polícia e do inquérito que investiga as manifestações - ideais que também defendo - dizer se acha mesmo que a melhor forma de criticar o trabalho da imprensa é descendo a porrada em seus profissionais. Gostaria de ver essa mesma gente que está defendendo ativistas - como se fossem todos muito inocentes - se posicionar sobre os comerciantes que tiveram suas lojas saqueadas e incendiadas nas manifestações. Isso pode? Isso é legal? É nessa mudança de mundo que se quer acreditar? É assim que se quer construir uma sociedade mais justa e democrática?
Se for, não acredito nesse novo modelo! Acredito em diálogo, democracia e em instituições sólidas; como a imprensa livre e a justiça. Instituições que estão longe da perfeição, é bem verdade, mas que podemos ajudar a aperfeiçoar cotidianamente, usando nosso poder de argumentação, nosso dinheiro e nosso controle remoto. Não gosta do jornal, não leia! Não concorda com a linha editorial da emissora de TV, não assista! Não assine seus canais fechados! Vá se informar pela "mídia independente". Ferindo os grandes grupos no bolso, talvez seja possível pressioná-los a rever suas linhas editoriais. Agora, se você relativiza tapa na cara, xingamento e soco em profissional da imprensa e continua vendo novela, BBB e o raio que o parta, aí você é um revolucionário de sofá. E eu lamento muito! Porque pode chegar o dia em que a sua profissão esteja em xeque e algum manifestante se ache no direito de dar na sua cara para protestar. Será o dia em que você estará colhendo os frutos podres no quintal da sociedade escrota que ajudou a construir...

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Memórias de uma Copa inesquecível...



Nos últimos 30 dias, cheguei ao cúmulo de me surpreender buscando alguma emoção em Irã e Nigéria - sem encontrá-la, claro! Disse "adíos"aos campeões da Espanha na primeira fase; sequei as pimenteiras da Itália e da França, vibrei com o progresso da seleção dos Estados Unidos e me diverti com a alegria contagiante da torcida do Chile - até o jogo em que eles enfrentaram o Brasil e promoveram um teste gratuito de 200 milhões de corações pentacampeões. Foi um mês de múltiplas descobertas, em que percebi, por exemplo, que Argélia e Costa Rica têm seleções com uma raça que a gente se acostumou a ver na turma que consagrou a amarelinha...
Por falar na seleção canarinho, fui torcendo, aos trancos e barrancos, empolgado pelos passos vacilantes que nossa equipe dava nos campos. No começo, disseram que restavam sete degraus. Chorei com o hino cantado por aquelas torcidas anêmicas - no tom da pele e no comportamento. Seis degraus. Vibrei com os pênaltis agarrados por Júlio César e também me emocionei quando ele, depois do jogo que valeu por um check-up completo, deu uma entrevista em que pareceu, enfim, respirar livre das culpas carregadas desde a África do Sul. Cinco degraus. Procurei Fred em campo, torci por um gol dele, mas jamais consegui avistá-lo. Quatro degraus restantes. Fui contagiado pela cara de guerreiro medieval do David Luiz, que entrava em campo como os gladiadores que precisavam matar leões no Coliseu. Três degraus. Xinguei juiz ladrão, fiz figa contra o time adversário. Faltavam só dois degraus. Sofri com a fratura do Neymar e, no dia em que aconteceu o inimaginável, morri de rir! Degraus? O Brasil se estabacou escada abaixo, num tombo histórico pra videocassetada nenhuma botar defeito! Metralhada, nossa seleção virou piada. Aliás, virou um Zorra Total inteiro, só que engraçado! Uma edição antológica, cheia de anedotas inspiradíssimas que chegavam sem parar pelo whatsapp e pelas redes sociais. Vi de um tudo! Ri como nunca! É, a #copadascopas teve o #micodosmicos...
Restou secar a Argentina na final. E vibrar como se tivesse nascido em Berlim com o gol tardio da Alemanha. Torci pro Galvão gritar "é tetra", tranquilo por saber que, nessa história - apesar da goleada imposta pela seleção vencedora - ainda somos os maiores campeões...
Pra mim, sem dúvida, foi uma copa inesquecível! Deixou muitas lembranças deliciosas, de reuniões muito divertidas com amigos, de farra nas areias de Copacabana, das interações com visitantes das Filipinas, do Chile, da Argentina, do Irã, da Alemanha...! Uma gente que abria um sorriso típico de quem se sente em casa. Uma gente surpreendida com a beleza do nosso país e do nosso povo. Povo plural, que viu sua diversidade reconhecida na "dança pataxó" da seleção alemã, em pleno gramado do Maracanã. E, como não acredito em coincidências, vale lembrar que Maracanã é uma palavra de origem... indígena! 
Eu acho que o Brasil ficou muito bem nessa foto! E o mundo reconheceu a nossa alegria como a maior riqueza que temos. Que possamos aproveitar todo esse potencial para fazermos um país melhor a cada dia, agora que a vida vai voltando ao normal. 
Já sinto saudades da Copa!
Já espero pelas Olimpíadas de 2016! 
E aposto que a gente bota pra quebrar de novo!!!