sábado, 29 de setembro de 2007

Ipê Rosa

Cedo demais, saiu de casa e viu a beleza das árvores de sua rua, todas floridas. Copas e mais copas tingidas de rosa - em belos e diversos tons de rosa. O ar tinha um perfume delicado e, enquanto esperava a vida começar a acontecer em mais aquele dia, reparou que as flores belas também caem do alto das árvores.
Flores bonitas, bailando no ar rumo ao chão molhado pela chuva da madrugada. Tapete rosa estendido sobre a lama. Curioso notar que as flores representam fertilidade, nascimento, beleza. E morrem assim, belas, sutis. Pulando do alto dos galhos para um mergulho final, para uma última dança definida pelo sopro dos ventos.
Nada do ônibus, e pôs-se a pensar que amores e flores têm muito em comum. Amores, quando surgem, também são a essência da beleza; do quão belo é estarmos vivos e termos o dom de amar, o dom da entrega. Também nos fazem sentir férteis, pela simples constatação desses mesmos dons. Amores que não têm pétalas, mas que gravam em nossa memória perfumes tantos e tão variados. Amores que, ainda como as flores, surgem sutilmente. E enfeitam a nossa passagem por aqui.
Até despencarem do alto dos galhos que regem os sentimentos desse mundo...
Pensava nos amores que acabam na lama, como as flores que caíam das árvores naquela manhã, quando o ônibus parou no ponto...

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O fim do 'Paraíso'...

Olavo, o matador: grande vilão da novela foi, também, o assassino de Taís

Faz mais ou menos uma hora que o Brasil descobriu a identidade do assassino de Taís. Olavo, o grande vilão da trama. Previsível? Até poderia ser. Mas Ricardo Linhares e Gilberto Braga criaram muitíssimo bem a trama que justificou a atitude do vilão. E isso, sim, é surpreendente. O óbvio seria colocar qualquer personagem insuspeito com a responsabilidade pelo crime. Como o próprio Gilberto Braga fez em "Vale Tudo", com a personagem de Cássia Kiss, Leila, mandando a Odete Roitmann para o espaço apenas por julgar que o vulto da ricaça era o de alguém que tinha um caso com seu marido. Na época, foi sensacional. E ainda é, até hoje.
Desde então, sempre que rola um "quem matou?" numa novela, o público busca incessantemente personagens surpreendentes. Em "Paraíso", até o pai do Daniel foi colocado na lista de possíveis culpados por muita gente. O blogueiro aqui, aliás, apostou a ficha no inocente Cláudio, o empregado de Marion, essa sim uma grande suspeita desde a primeira hora...
Venceu a coerência. E Wagner Moura sai premiado desse trabalho por ter criado um tipo que, certamente, já faz parte da galeria de personagens inesquecíveis da história da teledramaturgia brasileira. Capaz de planejar até a morte da mãe pra se dar bem, Olavo é um vilão clássico.
Além da bela cena que revelou a paternidade de Ivan - com grandes interpretações de Wagner Moura e Bruno Gagliasso; destaco a seqüência da reconciliação de Antenor e Lúcia. Não dá pra medir o talento de Tony Ramos e sua incrível capacidade de emocionar. Ainda mais junto da grande atriz que é Glória Pires.
Ver a notável Vera Holtz correndo do Rapa me arrancou boas risadas. Agora, o público ficou sem entender o que a Alice de Guilhermina Guinle estava fazendo ali, trabalhando como gari. Faltou explicar que a moça estava cumprindo pena pela agressão à camareira do hotel, né? Ou será que os autores julgam o público tão expert em novelas que pensaram que a "mensagem subliminar" seria facilmente captada?
Também achei excelente a sacada dos autores na hora de dar um desfecho para a trama de Bebel. Popular como ela só, a personagem não poderia ter mesmo um triste fim, sob pena de que o encerramento da história não fosse digerido pelos espectadores. Colocar a moça numa CPI, tirando onda e anunciando um ensaio pra uma revista masculina foi uma ótima tirada. E bem familiar, né?
No mais, cenas bem feitas mas muito bobinhas, como são muitas das cenas finais de novela. Clima de comercial de margarina (e sem gordura trans!). Mas novela, como dizia aquele anúncio antigo de refrigerante, "é isso aí"...

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Bifurcação

Num dia qualquer, tempos atrás, uma conversa parecia envolta por uma farta neblina. Espessa fumaça a esconder o que cada palavra queria dizer e o que, juntas, todas elas revelavam. Declaração improvável, impensada. E inquestionável, irresistível. Proposta irrecusável, desejo incontrolável de pular de cabeça no desconhecido.
Pulou...
Lá, a fumaça foi se dissipando. Deu lugar a uma paisagem muito menos estranha daquela que tentara imaginar do lado de fora. Reconheceu a plenitude de sua alegria logo no primeiro beijo. O desejo continuava lá, insaciável. Parecia ter certeza de tudo, via com uma clareza nunca antes experimentada.
Até notar a névoa tomar conta de tudo de novo. Devagar, entrando pelas frestas. Depois, tomando espaços, sufocando. Fazendo mesmo o que já lhe era familiar parecer estranho demais. Sentia-se prisioneiro, não era possível desvencilhar-se da neblina.
Tempos depois, quando nem mais acreditava que ela iria embora, experimentou a visão novamente. Clara, precisa. Certeira. E viu que tudo tinha mudado, que como a fumaça, todos os sonhos que haviam sonhado juntos também haviam se dissipado. E o que havia, agora, era apenas o fim.
Desfecho que nunca quis, com o qual não tinha contado nem nos piores pesadelos dos tempos de sua esfumaçada cegueira: cada qual pra um canto...

Siri atola na premiação da MTV...

Do BBB ao VMB da MTV: fama sorri para Iris. Só resta saber até quando...

No começo do ano, passei 3 meses como vizinho de um bando de loucos que resolveram expor suas vidas no reality-show mais assistido do país, o BBB. Trabalhei no site do programa, e passei boa parte daqueles 80 dias espiando os passos daquela turma. Numa das madrugadas por lá, ri muito. Os participantes participavam de uma prova (não lembro mais o que estava em jogo) e precisavam segurar numa corda pelo maior tempo possível. Vencia, claro, o último a largar o osso. Ou melhor, a corda...
Até aí, tudo bem. Precisava ficar de olho nos monitores para acompanhar as desistências e publicá-las no site. Até que, lá pelas 2, 3 da manhã, Irislene Stefanelli começou a cantar. Muito mal! Enlouquecidamente! E um bando de músicas completamente desconhecidas por mim e pelos companheiros de plantão...
Rimos muito naquela madruga! E a Siri levou a melhor na prova...
Você deve estar se perguntando: "Por que esse cara resolveu falar disso agora, quase seis meses depois do fim do programa?". Respondo, caro leitor: acabo de ver essa moça na MTV, entregando um dos prêmios do VMB 2007. Bonita, bem vestida, e com o mesmo jeito over de sempre. Mas lá está ela: no mundo VIP, onde sempre quis estar. Dizendo um textinho bobo - como são os textos de todas essas premiações - sem a menor naturalidade, mas acreditando, com certeza, que estava brilhando.
Espero que Irislene aproveite sua fama. Porque, se na época do BBB, ela era o único Siri a bombar na mídia, hoje, no VMB, ela já entrou na aba do Siri do momento: aquele, da dancinha tosca da turma do Pânico na TV...

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Fogo

"No dia em que cravei meus dentes em teu pescoço pela primeira vez, arrepiamo-nos juntos. Tua boca secou e a minha ficou cheia d'água. E água na boca é o que você sempre me deu, sempre dá, e sempre vai dar. Um desejo de desvendar tuas curvas, os pedaços côncavos e convexos desse corpo gostoso e onde sempre sou tão feliz.
Um ânsia de te beijar mais e mais, de te morder, de sentir o balé de nossas línguas em meio a mais um dos nossos beijos espetaculares. De fechar meus olhos e te pedir para fechar os teus, percorrer você com minha boca à procura de uma parte ainda não explorada, de novos gostos...à procura de ti.
Sede de ver acesa a fogueira que arde toda vez em que somos apenas um. Fogueira que nos engole e faz do nosso jeito de fazer amor o mais especial dentre todos os que já experimentei. São tuas as lembranças que guardo quando penso em prazer; porque foi contigo que dividi as melhores labaredas desse fogo que há em mim. E que só se faz completo quando arde junto do fogo que há em ti..."

Aprendizagens de um repórter...

Ontem entrevistei Israel Pedrosa, um grande artista plástico, que teve aulas com um gênio: Cândido Portinari. No ateliê de Israel, impressionado com a beleza de seus quadros e com a sua pesquisa sobre a cor inexistente, ouvi uma frase que me tocou de forma especial. Aos 81 anos, o artista me disse: "Sempre que pinto um quadro, fico pensando o que posso melhorar no próximo".
Achei bonito ouvir isso de um artista amplamente reconhecido, com muita experiência e com grandes contribuições para o estudo das artes plásticas; das cores, especialmente. Porque é essa busca eterna pelo nosso melhor, no fundo, é o que nos move no amor, no trabalho, e em toda a sorte de relações que a gente estabelece. É a busca que nos impulsiona nesse mundo. E que impulsionou meu entrevistado ao longo de suas oito décadas de sabedoria acumulada...
Uma bela lição pra mim...
Em tempo: a ilustração do post é uma reprodução de um dos belos quadros de Israel Pedrosa.
Ainda em tempo: a entrevista fará parte de um especial sobre Cândido Portinari, que o "Salto" vai exibir em novembro. Boa dica para os amantes da arte e fãs do grande artista...

terça-feira, 25 de setembro de 2007

"Doce, doce, doce..."

Não sei se é pra rir ou pra chorar a notícia, publicada no G1, sobre a sobremesa mais cara do mundo. Em tempos de tantas críticas às desigualdades sociais que assolam esse mundo doido, saber que há um resort cobrando quase R$ 29.000 por um docinho, é de doer! Tudo bem que o doce pode ser maravilhoso, que vem com uma escultura de chocolate e uma pedra preciosa mas, ainda assim, fala sério...
A única pontinha de esperança num mundo melhor se acendeu quando li que ninguém se habilitou a desenbolsar a fortuna pra provar a iguaria! Será que ainda há uma luz no fim do túnel?
Pra saber mais sobre o quitute e conferir a receita da iguaria, clique na foto.
Ah, só pra encerrar o assunto: muito pertinente que a notícia - agora na chamada principal da home da Globo.com - esteja na editoria "Planeta Bizarro"...


segunda-feira, 24 de setembro de 2007

"Quem é essa mulher...?"

Com o filho perseguido, preso, torturado e morto pelo regime militar, a estilista Zuzu Angel lutou até o fim da vida para trazer à tona a sujeira escondida nos porões da ditadura...

Acabo de ver "Zuzu Angel", filme de Sérgio Resende, no Canal Brasil. Gostei bastante do filme e da irretocável interpretação de Patrícia Pillar, linda como sempre e no auge do talento.
A dor da mãe que luta pelo direito de encontrar o filho preso pelo regime militar é universal. É admirável ver como uma mulher sozinha se dispôs a enfrentar a ditadura para provar que o regime que se anunciava como o melhor caminho para o "país do futuro" prendia, torturava e matava aqueles que discordavam de seus métodos anti-democráticos.
A cena em que um tribunal julga o filho de Zuzu, já sabidamente morto, é um dos poltos altos da produção, com uma fantástica explosão de Patrícia Pillar, capaz de encher a tela com a dor da mãe ultrajada nos mais dignos dos direitos: o de enterrar o filho e ver punidos os responsáveis por sua morte. Também é belíssima a seqüência que mostra um sonho/devaneio de Zuzu, na qual ela conversa com o filho morto...
Recomendo o filme e faço uma ressalva para a bela música de Chico Buarque e Miltinho, "Angélica", feita em homenagem a Zuzu. Aliás, o título desse post traz o verso recorrente em toda a letra da canção. Aqui, a letra na íntegra.
Pra encerrar devo dizer que, depois de ir à Bienal do livro e comprar uma coleção de livros sobre a história desse nosso país, foi impossível deixar de pensar, após ver o filme, que essa história, em dados momentos, é motivo de profunda vergonha...

domingo, 23 de setembro de 2007

Mas a vida, o que é?

Houve um tempo em que era menos provável que doces palavras fossem capazes de lhe emgambelar. Tempos outros, nos quais ainda tinha os pés bem fincados no chão e a mente era pragmática demais para alçar grandes vôos pelos céus de sonhos e conjecturas. Buscava o real, e era apenas o real que lhe valia de algo.
Tempo passado, certezas desfeitas, pragmatismo deixado de lado. Permitiu-se sonhar mais, crer mais, saltar com seus pés para longe do chão-amarra onde havia se deixado prender por tanto tempo. Experimentava os prazeres de imaginar as coisas como gostariam que elas fossem; de interpretá-las sem medo de parecer que o fazia, de um jeito ou de outro, sempre em seu próprio favor, em favor da sua felicidade.
Tempo triste. Não podia mais contar com as derrotadas certezas de antes e viu, um a um, todos seus sonhos mais felizes virando pó; como que triturados por uma realidade cheia de lâminas afiadas, todas voltadas em sua direção.
Sem o pragmatismo do real e sem a leveza de seus belos sonhos, perdeu-se. Andava por caminhos que não lhe pareciam os seus e, em meio à caminhada, vez por outra parecia reconhecer traços familiares. Não sabia se estava ou não sem rumo. E se houvesse um rumo, não saberia sequer o que fazer para tomá-lo.
Experimentou a angústia de todas as incertezas que havia na vida. Nada estava mais sob seu controle, a não ser os momentos em que escolhia entre a vontade louca de chorar e os outros, nos quais se esforçava para procurar bobagens pequenas que lhe pudessem render um sorriso. Ou um esboço qualquer de risada que lhe pudesse tirar do peito aquele aperto.
Um dia, acordou tão ou mais perdido quanto havia ido se deitar na véspera e se perguntou se aquela era a nossa única escolha em meio à essa turbulenta existência. Estamos aqui pra optar entre chorar e rir? É essa escolha que pode dar a chave para uma vida mais leve?
Como não tinha mais certezas, não encontrou a resposta...!
E só muito tempo depois notou que essa é a mesma pergunta que persegue muita gente mundo afora. E se sentiu mais leve por não ser o único ser sobre a face do planeta a carregar a dor de uma existência silenciosa, quase sem sentido; onde os sonhos evaporam e as certezas escorrem entre os dedos como a areia fina de perto do mar...

Temporada das Flores



Que venha a primavera, cheia de cores, amores, sabores e risos...

Ah, adoro a música do Leoni...

Uma tarde na Bienal

Passei a tarde de ontem na Bienal. Bom papo com amigos, boas risadas, boas oportunidades de compra (comprei toda a coleção Terra Brasilis, do Eduardo Bueno, com 25% de desconto) e um debate interessante sobre o universo feminino e suas relações com a história no Café Literário. Fernanda Young, Mary Del Priore e o próprio Bueno eram alguns dos debatedores. O espaço, aliás, estava lotado! Tinha até gente de pé pra acompanhar a deliciosa conversa entre os escritores...
Programão!
Quase na hora de deixar o Riocentro, uma imensa fila de crianças, sentadas no chão ao lado de seus pais, tomava boa parte de um dos corredores do Pavilhão Verde. Era muita gente. Com dificuldade, venci o tumulto e entendi a razão de toda aquela aglomeração: Ziraldo estava autografando um de seus livros.
Fiquei feliz por ver o reconhecimento ao trabalho do autor e comentei que Ziraldo é uma espécie de popstar da literatura nacional. "É bacana ver um talento ser reconhecido dessa forma", eu dizia, quando ouvi duas moças conversando atrás de mim: "Quem é que tá autografando?", uma disse. "É o Ziraldo", respondeu a outra. E a primeira retrucou: "Deus me livre! Enfrentar uma fila dessas pra ver esse hômi!".
Pouco depois, encontrei um amigo que me relatou seu espanto ao ver o cerco que se fez ao carrinho que, momentos antes, transportava Karina Bacchi e Ticiane Pinheiro. "Era uma multidão correndo atrás delas, Murilo", dizia meu amigo. Depois, ao ouvir a história da conversa das moças nas redondezas da fila de autógrafos do Ziraldo, meu amigo disparou: "Um país tem os ídolos que merece!".
Dá pra não concordar?

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A pergunta que não quer calar...

Revistas juram que descobriram o final da novela das 8. Você acredita?

É impressionante como numa época com tanta coisa bombástica acontecendo país afora, a gente ainda é capaz de parar pra pensar no final de uma novela. É a força desse veículo mágico chamado televisão e do principal produto da indústria do entretenimento do país. Programa mais visto do Brasil, com uma audiência estimada em 50 milhões de pessoas por noite, Paraíso Tropical está bombando! Com mais um daqueles infalíveis "quem matou?", a novela deve prender a audiência da turma toda até o último capítulo e, a despeito das críticas iniciais, vai entrar para a história como uma boa história. E sem aquela barriga, quando nada parece acontecer na trama...
Agora, uma semana antes do desfecho, as revistas e sites de fofocas estão loucos por um furo qualquer que possa levar a identidade do assassino da gêmea má. Marion, de Vera Holtz, é a líder nas bolsas de apostas do elenco.
Eis que, hoje, me deparo com a publicação, na internet, do suposto último capítulo da novela. Que também já está nas bancas, numa dessas revistas especializadas em novelas. Ou seria especializada em criar novelas paralelas?
Sim, já perdi as contas de ver capas de revistas nas bancas descrevendo cenas que nunca existiram. Ou, pelo menos, que nunca foram ao ar...
Cara de pau, né não?
Bom, humildemente eu acho que uma pessoa bem próxima a Taís pode ser a responsável pelo crime. E aí, entram na lista Marion, Ivan, Olavo e...Cláudio, o assessor (pau-mandando) da promoter. Agora, o final mais bacana (ainda na minha opinião) seria com a Ana Luísa, personagem de Renée de Vielmond, como responsável pela morte da vilã. Seria um prêmio para essa atriz veterana que, depois de tanto tempo longe das novelas, deu o ar da graça novamente e conquistou o carinho da audiência, que chegou a pedir que sua personagem voltasse ao ar antes do previsto.
Apenas conjecturas...
E você? Arrisca um palpite?

Pazes no boteco

Não tinha glamour nenhum o local que ele tinha escolhido para tentar uma reaproximação. Não levava jeito para produzir encontros formidáveis, inesquecíveis e charmosos. Pelo menos, não na concepção mais tradicional a qual esses adjetivos aparecem mais constantemente associados.
Precisava de uma segunda chance com ela; tomara coragem e, naquela terça-feira de muito calor, acabou convencendo-a a tomar um suco num boteco ao lado da firma. Nada de luz de velas, nem de jazzinho tocando. As características que marcariam aquela conversa, sabia, deveriam nascer de seu discurso sincero, de seus sentimentos. Ah, havia também um cheiro de gordura no ar...e seria bem difícil que conseguissem esquecer dele um dia...
Assim que se sentaram, tomou ar e disparou a falar:
- Sabe de uma coisa? Errei com você! Quis me preservar demais, me resguardar demais e acabei envolto por uma muralha intransponível; muralha que eu mesmo ergui e que me prendeu longe de você, do seu amor, desse teu olhar doce, afetuoso! Acabei distante de tudo o que eu busquei por medo; medo de te magoar, de me magoar! Fui covarde e minha covardia me cobrou um preço alto demais: o de te ver longe, linda! Menina como sempre, mulher como nunca. Longe de mim mesmo nos momentos em que estamos mais próximos. E, sabe...me sinto como se tivesse roubado de mim mesmo a melhor chance que a vida me deu nos últimos tempos. Tempos difíceis, de uma busca incessante por algo que, talvez, tenha me sido oferecido sem que eu nem tivesse a sensibilidade de notar. Um amor puro. O teu amor...
Ela não sabia como reagir; a situação era inusitada demais e vê-lo ali, lutando para segurar uma lágrima que já lhe ia pelo meio da face partiu-lhe o coração. Sua mão delicada segurou o queixo daquele homem e, também tentando conter a emoção, disse:
- Sabe de uma coisa? Não vou deixar que um orgulho bobo me impeça de te olhar sorrindo todas as manhãs e de passar contigo as melhores noites da minha vida. Não quero que um sentimento menor me impeça de rir todas as vezes em que formos ao cinema e você acabar cochilando. Seria tolo da minha parte fingir que você não me disse tudo o que eu mais gostaria de ouvir; mesmo que com alguns meses de atraso. Não vou repetir o teu erro; não vou roubar nossa chance de encontrar, juntos, o que temos buscado, cada um do seu jeito, por tanto tempo...
Beijaram-se ali mesmo, no meio do botequim; ao lado de uma senhora que se atracava com uma empada enquanto dizia ao moleque-pedinte, habitué do lugar, que não; não estava interessada em comprar paçocas...

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Uma maluquinha adorável...

Minha querida amiga, Florenza Monjardim, produtora do Salto está estreando na blogosfera. Flor é um amor, tem um texto muitíssimo divertido e está disposta a dividir suas fantásticas histórias com todos nós, amantes dos textos cheios de bom humor.
Então, já sabem: recomendo muitíssimo o Petit Détraquee, o refinadíssimo blog (com nome em francês) da minha amiga!
Bjão, Florzinha! E boa sorte com o blog!

Universo Paralelo

Essa é a coluna assinada por Muka Nicholls, correspondente do B@belturbo no Second Life. Na edição de hoje, o simpático avatar dá notícias sobre o fascinante mundo dos biscates lá pelas bandas do mundo virtual.

Saudações cibernéticas, turma!
Ando sem tempo para mandar as notícias aqui do Second Life. Cada dia descubro um canto novo desse fantástico universo. Numa dessas andanças, cruzando ilhas e mais ilhas, acabei me deparando com um Pelourinho, em plena Ilha Bahia! Sim, uma réplica perfeita, com direito a casario colorido como o original! E, mais que isso, a um ensaio de uma banda que parece ter se inspirado no Olodum! Resultado? Curti minha primeira micareta-virtual, ao som de Ivete Sangalo.


As imagens não têm boa qualidade porque foram gravadas por um cinegrafista amador. Mas valem pelo registro desse carnaval-fora-de-época...
Volto em breve! O assunto da próxima coluna é surpresa!
Até mais e saudações do Universo Paralelo!

Babou...

Cerca de cinco meses depois do início das operações, a TV JB saiu do ar no começo dessa semana. Lamentável, principalmente pelos quase 200 funcionários que foram dispensados com o fim da aventura do grupo CBM pela seara televisiva.
E lamentável, também, para o público. Alguém duvida que, de volta ao line up, a CNT vai mandar ver naqueles leilões de tapetes, informerciais e afins? Sem falar nos tele-cultos...só Jesus mesmo!

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Fala sério...

Na mesma semana em que pipocam notícias sobre a prisão de quase 10% do efetivo de um dos Batalhões de Polícia Militar da Baixada Fluminense por suposto envolvimento com o tráfico de drogas, hoje o cidadão do Rio de Janeiro se deparou com a notícia sobre a mais nova polêmica da segurança da cidade: um concurso para a Guarda Municipal que, em seu edital, exige que os candidatos tenham, no mínimo, 20 dentes.
O item 3.5 do edital, referente à Avaliação Médica, determina que os candidatos a uma das 1.500 vagas na instituição devem ter, no mínimo, 10 na arcada superior e 10 na inferior. Do contrário, eles podem ser considerados inaptos para a função.
A história é absurda! É a volta da exigência de "boa aparência", prática tão comum em oferta de vagas de emprego. So que agora um governo resolve aderir à preconceituosa prática, dando um péssimo exemplo! E, mais que isso: fora da realidade, como mostra essa matéria do G1.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Rendição à Sua Alteza...

Sinto seu perfume inebriante, princesa, e me lembro de tantos e tantos que já te cantaram. Os daqui e os de fora. Os de toda a parte que te encontram, sempre linda, sempre perfumada, e se perdem a olhar para ti, Copacabana...
A olhar para o balé de tuas ondas verdes, lançando por sobre a areia a faixa de espuma branca que faz o turista lembrar do colarinho do chope gelado, bebido ali, à beira de tuas águas, Copacabana...
A olhar para a fartura de lindas paisagens que nos oferece, para o Forte, para tua calçada esculpida no imaginário de cidadãos do mundo todo; todos seduzidos por teu encanto, Copacabana...
A olhar para a imensidão de mar que nos ofereces de bom grado; a olhar para as lindas musas que rivalizam contigo no posto de dona de todos os olhares, de todos os desejos; e desejo é o que não falta em ti, Copacabana...
Em tuas noites, cheiras a perfume barato e tens um sabor de batom com a validade vencida misturado com a batata frita num óleo que já fritou muito mais batatas que deveria. À noite, tu és lasciva, és sedutora e emanas uma atmosfera de luxúria, pecado e deleite. E ofereces a muitos um antigo lazer, ora punido, enquanto, a outros, dás o mais antigo dos trabalhos.
Em tuas esquinas, vilas, favelas, arranha-céus, casas e choupanas, és plural em perfeita conjunção com o singular; és amorosa e cruel; assustas e acolhes os que te visitam e nunca mais esquecem de ti.
Assim és tu, contraditória, paradoxal; mistura perfeita que te fez única, inesquecível e dona do maior charme entre todas as tuas irmãs de costa. E mesmo entre todas as demais costas que há no mundo..

domingo, 16 de setembro de 2007

E Galvão fez a dança do siri

Depois de uma entrevista, o locutor esportivo mais famoso do país, enfim, cedeu aos apelos de Vesgo, Sílvio, torcedores, humoristas e anônimos zoadores de todo o Brasil

Depois de uma longa campanha, que contou com adesões de torcedores capazes de ir a estádios de futebol ostentando faixas e cartazes com apelos pró-dancinha, Galvão Bueno sucumbiu e, na Europa, mandou ver na já célebre dança do siri. O locutor estava meio troncho, sem graça e etc, mas dançou! E o "Pânico", da Rede TV!, demonstra sua força novamente. Com um humor popular, que por vezes, vai muito além do limite do bom gosto; que trouxe à televisão a prova de que há, sim, novos caminhos a se percorrer quando o assunto é fazer rir.
Vi trechos do programa de hoje e, cá pra nós, a edição estava muito bacaninha! A própria matéria do siri teve umas sacadas bem legais, com a edição entrando pra dar mais graça e não apenas pra enfeitar o pavão. Belas sacadas...
Também vi o quadro do Christian Pior, em dupla com a Sabrina Sato (aliás, como está linda a Sabrina!!!). Não achei tanta graça e vi um certo problema: os dois tendem a falar mais do que os entrevistados. Mas dei uma boa risada quando ele disse já ter visto o vestido da Vera Fischer num "bazarzinho". E achei, também, que os que os dois fazem é muito parecido com o que Vesgo e Sílvio já faziam desde o início da febre do Pânico...
Pontos pra Emílio & cia...

Ainda o samba de Maria Rita...

Sei que já escrevi aqui sobre o disco de sambas da Maria Rita. Tá logo ali embaixo. Mas devo dizer aos leitores que, desde ontem, quando comprei o Cd, essa moça mora em meus leitores de Cd e sua voz e seus sambas se instalaram em meus ouvidos. E têm sido muitíssimo bem recebidos! Ouço, ouço, ouço e gosto cada vez mais de "Samba Meu".
Discaço!

Sobre Pedrinha de Aruanda...

Numa seresta na varanda de sua casa, em Santo Amaro, Dona Canô canta com os filhos famosos exibindo o vigor e a beleza de sua voz centenária. Cantoria é um dos pontos altos do filme...

Hoje, Santo Amaro está em festa! Dona Canô completa 100 anos juntos dos filhos, amigos, familiares e vizinhos. Mas quem mais quiser participar dos festejos pode dar uma chegadinha a um dos cinemas que exibe "Pedrinha de Aruanda", o documentário sobre Maria Bethânia estrelado por...Dona Canô! Dirigido por Andrucha Waddington, o filme usa e abusa do carisma e da sabedoria que essa centenária senhora acumulou ao longo do último século.
Dona Canô é apaixonante; é aquela vó que todos gostariam de ter, tem aquela fala mansa baiana e um silêncio igualmente belo. Aparece mais no filme que a filha famosa - Bethânia, aliás, é uma das responsáveis pelo roteiro que privilegia a mãe - e, num dos momentos mais bonitos da produção, cercada por Caetano e Bethânia, canta lindamente na seresta realizada na varanda de seu casarão de dez quartos. "Chuê, chuá", diz Dona Canô, para toda uma platéia hipnotizada pela meiguice da mãe de dois dos mais importantes artistas contemporâneos do país.
Tenho restrições ao filme que, ao meu ver, não é um documentário. Tenho restrições inclusive técnicas, em relação à edição. Acho, também, que faltou Bethânia num filme que tem seu nome no título. Haveria espaço para algo além da bela seresta que invade a tela um pouco depois da metade da obra e se alonga por boa parte da etapa final da projeção.
Mas o jeito de Dona Canô, suas tiradas impagáveis: "Antigamente as músicas queriam dizer alguma coisa"; e a singeleza das canções iniciais da seresta me fizeram ter um carinho todo especial pela produção. Fico pensando no fantástico documento para a família, no valor inestimável de ter, ali, a matriarca ladeada pelos filhos artisas e cantando de um jeito tão bonitinho. E entendo que esse é um filme sem grandes pretensões e que aí mora toda a sua beleza...

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A pedida é...o samba dela!

O samba é dela, mas quem se deleita é a gente: "Samba Meu", terceiro disco da carreira de Maria Rita, tem produção caprichada, belas canções e mostra que a moça veio pra ficar...

Hoje chega às lojas de todo o Brasil "Samba Meu", o terceiro disco de Maria Rita. O álbum vem cercado de curiosidade, já que, dessa vez, a cantora dedicou todo o repertório ao mais brasileiro dos ritmos: o samba. Dois belos - e recentes - discos de sambas lançados por outras duas grandes cantoras (Marisa Monte e Roberta Sá) aumentaram ainda mais a atmosfera de suspense para a leitura que Maria Rita dará ao ritmo.
O blogueiro aqui teve o privilégio de conferir, no site montado para a coletiva-virtual de lançamento do CD, o primoroso novo disco da cantora. "Samba Meu", produzido por Leandro Sapucahy é imperdível! Produção caprichada, repertório de primeiríssima "catiguria" e uma sonoridade que se mostra diferente das alcançadas nos discos de Marisa e Roberta. Sim, Maria Rita encontrou o seu samba. Um samba que é popular sem perder a elegância. Samba que realça a beleza do canto dessa grande artista.
Arlindo Cruz destrona Marcelo Camelo e dá as cartas no repertório do CD! Com seis belas composições, o sambista é a prova de que Maria Rita foi beber na melhor das fontes antes de se aventurar no território do samba. Piano, baixo acústico e bateria - marcas dos arranjos dos discos anteriores da artista - foram mantidos, realçando um estilo que vem sendo desenhado por Rita desde seu primeiro e aclamado trabalho: "Maria Rita", de 2003. Em "Samba meu", a produção acrescentou ingredientes do bom e velho samba à base e incrementou ainda mais o som da cantora.
O disco começa a capela, com a faixa-título, composta por Rodrigo Bittencourt. A cantora logo ganha a companhia de uma chorosa cuíca e entoa belos versos. Com a adesão da Velha Guarda da Mangueira, Maria Rita faz de "O homem falou", sambão da melhor safra de Gonzaguinha, um dos melhores momentos do álbum (e estamos apenas na segunda canção!). "Maltratar, não é direito" é mais uma pérola de Arlindo Cruz e Franco, cantada com graça. “Num corpo só”, de Arlindo Cruz e Picolé, é samba cheio de sensualidade. Com charme e elegância, Rita se derrete na interpretação: "É só beijar tua boca que eu me arrepio, arrepio". “Cria” é assinada por Serginho Meriti e Cesar Belieny e começa com as vozes do filho de Maria Rita, numa brincadeira com o filho de Tom Capone, produtor de seu disco de estréia. Mais um bom momento do Cd...
Quando chega a vez de "Tá perdoado", a gente entende os motivos que fizeram o single do disco se transformar, quase que instantaneamente, num hit nas rádios do país. Também composto pela dupla Franco/Arlindo Cruz, esse é um belo samba, com alto astral e cantado por uma Maria Rita totalmente entregue ao mais carioca dos ritmos. Pelo conjunto, é das minhas preferidas no disco. Já dá pra imaginar as morenaças cantando e sambando nas rodas de samba na próxima primavera: "Seja do jeito que for / eu te juro meu amor / se quiser voltar / tá perdoado".
Pra declarar minha saudade”, de Jr. Dom e Arlindo Cruz, é a faixa mais curta do disco e deixa um gostinho de quero mais no ar. Maria Rita aparece mais contida na interpretação desse samba romântico. Seu canto é mais grave, suave e sentimental. Igualmente bela é "O que é o amor", assinada por Arlindo Cruz, Maurição e Fred Camacho. Bonita letra, belíssimo arranjo. "Quando a gente ama é o clarão do luar / que vem abençoar / o nosso amor". A faixa transita de um jeito gostoso entre o sambão e aquele samba de boate da moda. Mas pode apreciar sem moderação: o resultado é uma mistura saborosa!
Para os amantes dos sambas-de-fim-de-amor, a pedida é “Trajetória”(Arlindo Cruz/Serginho Meriti/Franco). Tom mais agudo na voz da cantora, piano em destaque no arranjo da primeira parte da canção. "Recebe menos quem mais tem pra dar", diz um dos versos mais belos da letra assinada pela trinca de compositores ."Não há no mundo lei que possa condenar alguém que a outro alguém deixou de amar", continuam os sambistas, cheios de amor pra dar...
Mente ao meu coração” (F. Malfitano) e “Novo amor” (Edu Krieger) me fizeram lembrar de gravações antigas de grandes cantoras da era de ouro do rádio. Maria Rita mostra toda a sua forma vocal e arrebenta. Com relação à canção composta por Krieger, vale lembrar que ela também foi registrada por Roberta Sá em seu último Cd. Na leitura de Rita, o samba ganha um arranjo num compasso mais rápido. Novamente sente-se a força desse ritmo tão brasileiro, e pode-se notar um quê de Chiquinha Gonzaga no ar...
Edu Krieger volta na faixa seguinte, "Maria do Socorro". A cuíca chora no início da música, mas esse samba é alegre e realça a versatilidade do compositor. Trata-se da história de uma dessas muitas tchutchucas que povoam o imaginário e as comunidades cariocas. “Corpitcho”, de Picolé e Ronaldo Barcellos, faz várias referências ao carioca way of life. "Oportunidade não cruza o Rebouças", "Madureira", "Império Serrano", "Copacabana", "Nikiti", "Paquetá" são algumas das citações ao Rio, nessa bela e alegre homenagem à cidade do samba. E a cantora mostra que conhece bem o universo, cantando a parte final da letra cheia de malandragem...
"Casa de Noca" fecha o disco. É um samba maneiro, de Serginho Meriti, Nei Jota Carlos e Elson do Pagode. E o CD termina do mesmo jeito que começou, com Maria Rita mandando ver a capela.
Em suma, "Samba Meu" é um discão para amantes de samba e da boa música. Maria Rita mostra que, a despeito de críticas, polêmicas, estratégias de marketing esquisitas, veio, sim, para ficar.
Que bom! E que venha logo o show, pro samba dela se tornar, também, o nosso samba...

Pedro de Lara: o jurado eternamente aborrecido...



Não gosto de postar vídeos em seqüência, mas o de hoje tem uma razão especial. Pra quem viveu a infância nos anos 80 e tinha pais fanáticos pelo Programa Sílvio Santos (como eu), a morte de Pedro de Lara, na tarde de hoje, não passa em branco...

No vídeo, Pedro dá altas cantadas em Xuxa, no auge do sucesso da "Rainha dos Baixinhos", e numa das raras participações dela nos programas de Sílvio Santos.

O cara fez o "feio rabugento" como ninguém, criando caso e reclamando contra tudo e contra todos no "corpo de jurados" mais famoso do Brasil. Sem contar que só hoje eu descobri que era também ele o intéprete de Salsi Fufu , no programa do Bozo.

"Pedro de Lara...é coisa nossa!"

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

"Espera que o sol já vem..."



Trecho do show "Nos horizontes do Mundo". Leila Pinheiro diz um texto de Adélia Prado. E emenda com a canção 'Mais uma vez', de Renato Russo.

Como o poeta, eu penso que quem acredita sempre alcança...

Então, acreditemos...

Uma ótima 5ª feira a todos!


Divagações sobre o dia em Brasília...

Da primeira vez em que estive em Brasília, fiquei impressionado. Lembro de pensar na proximidade entre o Congresso Nacional e a rua, com os carros passando ali do lado o tempo todo. Sim, eu já sabia que há muita segurança por lá, mas, ainda assim estranhei. Fiquei pensando como seria se a capital federal ainda fosse o Rio. Será que as coisas por aqui seriam tão pacíficas, tão calmas e, mais que isso, será que, mesmo os protestos, seriam tão imbuídos de um espírito civilizado?
Não encontrei respostas para as perguntas...
Também pensei na quantidade de pessoas que devem ignorar solenemente o que acontece em nossa capital. Por falta de informação, por falta de educação, por falta de crença de que as informações podem nos levar para um patamar melhor em teremos políticos, democráticos e sociais. Ou até mesmo por cansaço dessa nossa jovem - e já tão esculhambada - democracia...
Hoje, depois de saber das notícias do dia em Brasília, ouvi uma maquiadora me dizer - enquanto fazia seu trabalho honesto e me preparava para que eu fizesse o meu também honestamente - que não acreditava numa relação tão pacífica com o Congresso se a capital fosse aqui no Rio. "O povo ia apedrejar aquilo tudo lá", previu.
Não creio em apedrejamentos.
Mas também não creio em passividade ampla, geral e irrestrita. E, muito menos, em inércia social...

Lições de um velho pipoqueiro...

Olhei o pipoqueiro, no final do dia, catando as pipocas prontas e colocando numa bolsa de plástico com todo o cuidado. É certo que amanhã vai requentar e tentar vender as sobras de hoje. Porque pra ele, aquele monte de pipoca murcha faz diferença; aquele monte de pipoca dormida pode se traduzir, amanhã, em alguns poucos reais que vão ajudar a matar sua fome e a fome dos que lhe são caros. Aquele monte de pipoca velha é fruto do seu suor, do seu trabalho. E é dali, só dali, que vem o seu sustento. É dali, da metamorfose gerada quando o milho é aquecido na manteiga, que aquele homem velho, de rosto cansado e costas curvadas faz nascer a esperança de que amanhã as coisas podem melhorar. Uma esperança alimentada pela crença de que amanhã, quem sabe, as pessoas que cruzarem seu caminho podem querer comer mais pipocas.
Com o saco plástico cheio das sobras, vi o velho pipoqueiro contar suas notas amassadas de um real. Havia notas de dois também. Um bolo de notas velhas que ele guardou no bolso do jaleco surrado; o uniforme que usa para trabalhar. Surrado, meio rasgado nas mangas; cheirando a pipoca. Mas que, naquele velho homem, parecia digno demais. Como a carroça enferrujada, e as notas amassadas. Dignidade era o que havia ali, em cada gesto que o pipoqueiro empreendeu antes de empurrar sua carrocinha combalida para longe, dando por encerrado o expediente. Dignidade de um homem simples, que busca seu dinheiro de um jeito honesto, encarando o trabalho - que tanta gente busca; trabalho que tantos e tão mais poderosos usam apenas para sugar ainda mais os mais simples, para ostentar suas riquezas imundas, para esfregar nas caras de todos nós quem é que manda. Poderosos de meia tigela, que não sabem o valor que há nas notas amassadas de um real guardadas no bolso do jaleco do velho pipoqueiro. Porque um real, para eles, é nada. E porque, pior que isso, o pipoqueiro, pra eles, também é nada. O povo é nada. E tudo é nada, porque o que importa é apenas a sua sede de poder, de riquezas, de ostentação. Nada lhes falta e, no entanto, nada é capaz de lhes fartar.
Mas, eles sim, nos deixam fartos. E valem menos, bem menos, que toda a pipoca murcha, passada e requentada do velho pipoqueiro. Seus carros - pagos por todos os que se espremem em ônibus lotados, carroças, lombos de animais e toda a sorte de transporte - ah, seus carros, por mais importados que sejam, valem nada perto da carrocinha enferrujada do velho pipoqueiro. Assim como seus ternos bem cortados, se comparados ao jaleco do velho pipoqueiro. Porque o que sobra naquele pobre homem fazedor de pipocas falta em muitos desses que se acreditam superiores a todos nós: retidão!

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Para insistir em desistir...

Já estava pensativo quando o vento sacudiu as folhas secas que cobriam o asfalto e trouxe para o ar um perfume floral que tornou mais fortes suas inclinações para o pensamento sobre as coisas do amor naquela noite de fim de inverno.
Lembrou de quantas e quantas vezes desistira de tudo. Em quase todas, apenas para ceder logo em seguida, desistindo da própria desistência em troca de um futuro abstrato demais para lhe poder dar qualquer sinal de que o destino seria feliz. Feliz como as risadas que davam juntos e que ainda ecoavam em seus ouvidos, destoando daquela lágrima dançarina que incomodava em seu olho enquanto tentava impedir que ela tomasse seu rumo natural.
Rumo? Mas que ironia, pensou. Que rumo? Onde seria esse rumo tão indefinido, tão obscuro?
E, uma vez mais, surgia em sua frente a imagem do tabuleiro fechado, com um letreiro indicando game over pra você. Partida encerrada, perdida, sem nada que pudesse tentar para reverter tal derrota.
Aperto no peito como aquele, sentira poucas vezes. Talvez fosse até possível contá-las com os dedos de apenas uma das mãos. Enquanto a imagem do tabuleiro desaparecia de sua frente; enquanto a lágrima dançarina ensaiava um balé pelo seu rosto; enquanto as pessoas passavam e ignoravam sua tristeza, sua saudade e toda a dor de seu sonho de amor derrotado pela vida real, pensou que era preciso; era preemente aprender a perder. E a insistir mais em suas desistências...

Ooops! She did it again...

Britney Spears no palco do VMA 2007, da MTV Americana: mais um mico para a galeria da ex-musa pop...

Quando li o anúncio de que Britney Spears se apresentaria no VMA 2007, achei que alguém da poderosa indústria do disco estava mesmo decidido a dar uma nova chance à loira, atualmente mais famosa por seus escândalos do que por qualquer música.
Não dei bola ao fato, não vi a transmissão da MTV brasileira mas entrei na rede no domingo à noite e, poucos instantes depois de terminado o "show" da moça, o vídeo já estava disponível para os curiosos. Sim, eu vi! Não, eu não gostei! Alguém, aliás, poderia gostar daquela performance? O que se viu pode ser classificado por um adjetivo que esteja entre o gélido e o ridículo...
E aí, notei que a indústria do disco pode ter sido apenas muito perversa, dando corda pra doida da Britney se enforcar ainda mais...
A barriguinha lipoaspirada de outrora não é mais a mesma e os cabelos loiros, quaaaaanta diferença!!! Se tivessem feito recall de bonecas Barbie recentemente eu teria a forte suspeita de que a razão era fazer aquela cabeleira medonha que a mocinha ostentou na noite de ontem, no palco do Palms Casino Resort, em Las Vegas.
O playback tava trash demais, a platéia parecia mais desanimada do que um cortejo fúnebre e a cantora (?!), coitada, exalava apreensão. Não sei se ela tinha dimensão do mico que estava pagando ou se a carinha assustada-que-tentava-controlar-para-parecer-sexy era mesmo proposital. Só sei que não foi dessa vez que a ex-musa teen conseguiu levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. A imprensa internacional, diga-se de passagem, tá é jogando mais lama na moça. O “New York Post” classificou a apresentação como um verdadeiro desastre; enquanto a "Reuters" disse que "Britney Spears ficou muito próxima do ridículo."
Só sei que me deu uma saudade dananda do finado blog Papel Pobre...certamente eles falariam horrores da Nonô (Britney) hoje...

domingo, 9 de setembro de 2007

Passe bem!

Fazes questão de ressurgir de uma forma feia, desagradável; escolhendo para si os adjetivos que estão longe de significar qualidades positivas.
Ressurges sem meu consentimento, monte de retalhos das fotos que rasguei, fragmentos de memória que apaguei. Voltas, tempo passado; tempo de dores que não eram minhas, de problemas que não eram meus...
Parece querer fazer questão de se mostrar novamente a mim, oferta que, de pronto, recuso. Não por mágoa, não por resquício de sentimento outro que não a sincera falta de vontade. Falta-me o desejo de saber de ti, dos teus, das tuas coisas e de tua vida. Falta-me a vontade de ouvir tuas palavras e mesmo os teus elogios dispensáveis e deslocados. Falta-me vontade de ter contigo qualquer postura outra que não o distanciamento.
Que até aqui tive e tanto bem me fez.
E que continuará a fazer, porque entre as poucas certezas que tenho na vida, está essa, de que nasci para viver longe de ti; e que o encontro de nossas histórias serviu única e exclusivamente para me lembrar dos valores nos quais não creio e dos defeitos que mais abomino.
Por isso e por todo o resto que não cabe aqui expor, bloqueio novamente você da minha vida. E escolho, uma vez mais, deixar-te longe da minha felicidade simples, da leveza com que levo meus dias e da minha monótona e saborosíssima falta de problemas alheios...

História revisitada...e recontada!

Best-seller e bem humorado, Eduardo Bueno encarna personagens da História do Brasil na nova série do Fantástico. Pelo que se viu na estréia, o quadro é uma ótima pedida para os amantes do tema...

Sempre fui um apaixonado pela História do Brasil. E me lembro de sempre me divertir com a tortuosa trajetória do nosso país. Ria mesmo lendo os livros daquela que era a minha disciplina predileta, imaginando como seriam os devaneios de D. Maria, a Louca; e os desmandos de Carlota Joaquina. Gostava tanto daquele universo que cheguei a prestar vestibular para o curso, antes de entender que a minha praia é mesmo o jornalismo (aliás, uma outra forma de se ajudar a escrever a história). Essa paixão explica o motivo pelo qual fiquei feliz por ver que o 'Fantástico' resolveu investir numa série sobre o tema. Ainda mais juntando a competência do Pedro Bial ao talento (e paixão pela história) do escrito Eduardo Bueno.
Dei uma conferida na estréia de 'É muita história' e já gostei. O tom é bem humorado, como os livros do autor, que servem de base para essa abordagem televisiva dos fatos que fizeram o nosso país. A mistura de ficção e realidade é azeitada e costurada por (importantes) citações bibliográficas que comprovam o(s) novo(s) olhar(es) que Bueno lança sobre o passado da nação brasileira.
Fiquei pensando na diferença que esse tipo de quadro pode fazer na vida da molecada que está estudando história agora. E no trabalho que vai dar para os professores, que precisarão aturar todas as piadinhas dessa turma que, hoje, viu que a independência do país parece ter sido declarada em meio a um tremendo piriri de D. Pedro...

sábado, 8 de setembro de 2007

Universo Paralelo

Essa é a coluna assinada por Muka Nicholls, correspondente do B@belturbo no Second Life. Na edição de hoje, o simpático avatar dá notícias sobre o fascinante mundo dos biscates lá pelas bandas do mundo virtual.


1 - Muka Nicholls fazendo dinheiro sentado num banquinho de praço em plena zona de prostituição; 2 e 3 - o correspondente do B@belturbo no SL toma sol em Búzios...e ainda recebe por isso!

Saudações cibernéticas!
Quando o assunto é ganhar dinheiro, o SL é um bocado estranho. Primeiro, porque todos aqui querem isso - como, aliás, é aí no mundo real. A diferença é que por aqui é praticamente impossível dar uma caminhada sem esbarrar com "pessoas" querendo saber o que fazer para conseguir um emprego. Impressionante! Se algum instituto de pesquisa resolver levantar o número de desempregados que estão vagando por aqui, preparem-se para índices alarmantes...
Mas, por outro lado, há os "bicos" - como, aliás, há também aí no mundo real. Só que mesmo os bicos parecem estranhos. Já pensou em ganhar dinheiro apenas para ficar deitado, tomando banho de sol numa das praias de Búzios? Pois é, aqui esse é um dos bicos que experimentei. Bastante tedioso, diga-se de passagem, já que os companheiros de empreitada ficam caladões o tempo inteiro. E há um certo risco, já que o sol era escaldante e o "fiscal" nem sequer distribui um protetorzinho. O mínimo, uma vez que ninguém ali recebia adicional por insalubridade.
Minha procura por mais Linden Dollars também me levou para um lugar estranho, algo próximo de uma zona de prostituição. Moças vestidas espalhafatosamente, rapazes descamisados exibindo os músculos comprados nas lojas e outro "fiscal" observando os trabalhos. E o dono do "estabelecimento", que paga até L$ 15 por uma hora de "sentada" nos banquinhos do lugar, faz questão de advertir a todos que não é permitido permanecer mais tempo que o estabelecido pelas regras do local.
Independentemente dos bicos, continuo enfrentando dificuldades financeiras. Até o fechamento dessa coluna, meu saldo é de L$ 28, o que é algo equivalente a cerca de dez centavos do dólar do mundo de vocês. Preocupante, né? Nesse mundo virtual, estou bem abaixo da linha da miséria.
Mas, mesmo assim, tenho me divertido. Na próxima coluna, vou falar sobre minha recente experiência acompanhando um ensaio do Olodum no SL.
Até mais e saudações do Universo Paralelo!

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

O mundo perde Luciano Pavarotti



Esse "signore" soube, como nenhum outro tenor, juntar voz, carisma e emoção.
Paz e luz para Pavarotti. Paz e luz para todos nós...
(No vídeo, o tenor interpreta a Ave Maria de Schubert)

Siri e Diego: imprensa adora falar, fotografar e fuxicar sobre os dois...

É impressionante como Iris e Alemão - os dois brothers mais famosos da sétima edição do BBB - caíram no gosto da mídia. Não há um dia em que o nome deles não esteja estampado em jornais, sites e afins. Seja lançando marca de cadernos, seja sendo criticados pelo diretor do BBB, seja batendo boca publicamente, seja polemizando sobre ameaças de fãs, seja sendo flagrados com novos pretendentes...não importa o fato! O que importa é que esses dois conseguiram continuar "bombando" depois de seis meses de fim de programa.
Muito mais do que aqueles 15 minutinhos de fama que tantos outros ex-BBBs já experimentaram...

O pecado mora ao lado. Ou melhor, em cima...

Ontem, vi no Jornal da Globo uma matéria sobre um prédio que abriga uma igreja evangélica no térreo e um motel no segundo andar. Por essas e outras que o Brasil é apontado por colunistas como o país da piada pronta...
Achei a história engraçada mas, agora, lendo uma notícia do G1, vi que nada é tão ruim que não possa piorar. A polícia suspeita que o motel seja usado para favorecer a prostituição e já investiga o caso. E o toque final nessa chanchada ecumênica é uma declaração do delegado responsável pela investigação. Perguntado sobre a curiosa vizinhança, o policial respondeu que não há nada que desabone a igreja, e continuou: "se o dono do motel reclamar do barulho, podemos verificar a perturbação de sossego".
Bom, dependendo do momento dos "hóspedes", uns gritinhos de "aleluia", "meu Deus" e afins não devem atrapalhar tanto, né não?

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Sobre uma inconfidência...

De tudo o que soube, compadeceu-se. Triste a sorte de quem sabe de coisas dos outros sem que esses outros o queiram. Triste a sorte de quem se vê vítima das artimanhas de um destino inconfidente, que teima por revelar o que todos parecem achar melhor que permaneça na sombra.
Agora, tinha vergonha. Sentia-se como o jogador que resolve jogar escondendo as regras, guardando para si informações importantes sobre o adversário.
Mas não era jogador. Nem havia adversário.
Nem queria jogar e derrotar alguém...
Sentia-se, sim, derrotado por uma revelação da qual não era merecedor, sobre a qual não esboçara pergunta qualquer que fosse.
Revelação que lhe surgiu de forma compulsória e que lhe dava, ora em diante, um ar de traidor...

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Universo Paralelo

Essa é a coluna assinada por Muka Nicholls, correspondente do B@belturbo no Second Life. De lá, sempre que possível, ele vai mandar notícias, impressões e comentários sobre os agitos que rolam no espaço virtual mais movimentado da rede.
Ah, e se você está estranhando o visual do repórter, relaxe: é que ele passou por uma recente transformação por lá...
Com a palavra, o próprio:

De tudo o que já tinha ouvido falar em termos de Second Life, nada me surpreendeu tanto quanto a existência de uma igreja. Entrei nela no meu Segundo Dia na Ilha Brasil. Duas moças com roupas bem elegantes vieram me recepcionar e me deram algumas dicas que foram fundamentais para que eu conseguisse roupas e calçados. Sim, porque aqui tudo é pago e eu, caros, cheguei sem um tostão na carteira. Elas me mandaram para uma espécie de "ilha da gratuidade". E me fartei comprando tudo: dos ternos à sunga de praia. Passando por cabelo e pele "mais reais", como dizem por aqui. Vem daí o novo visual que vocês podem conferir nessa foto, que tirei na hora do pôr-do-sol de ontem...
Absurdo comprar um visual novo? Nada diferente dos shoppings de plástica que já existem aí na "vida real". A diferença é que, enquanto tem gente aí gastando rios de dinheiro pra fazer isso, eu "comprei" tudo de graça!
De volta à igreja, já vestindo roupa nova, fui abordado por minhas duas novas amigas. E elas, creiam, tentaram me converter. Como diria aquela música do mundo de vocês: "assustado eu disse NÃO!" e saí da igreja.
Bom, dei uma voadinha pela ilha - é, aqui todos voam e, sabe como é, não tem caos aéreo! A gente não precisa de reversor pra reduzir a velocidade e, na hora de aterrisar, ninguém se preocupa com ranhuras no chão. Pois bem, voei e achei o Cristo Redentor. Até deu pra tirar uma foto sentado no braço da estátua, que também está sendo saudada por aqui como uma das novas maravilhas do mundo.
Tenho me divertido, mas confesso que as pessoas me parecem um tanto estranhas! Os estrangeiros me parecem mais hospitaleiros que os companheiros de Ilha Brasil. Estranho fenômeno...
Na próxima coluna, vou falar dos bicos que rendem dinheiro aqui no SL. Até mais!

domingo, 2 de setembro de 2007

Quando a morte é a melhor conselheira...

Ainda pequeno, quando soube que morrer era o destino de todos, passou a achar a vida uma brincadeira extremamente sem graça. Era meninote ainda, mas esperto o bastante para não mais crer naquela conversa mole de que, num belo dia, todos virávamos estrelas. Perguntava-se qual a razão que mantinha todos interessados em levar aquela história em frente se, no fim, só sobrariam dor e lágrimas. Se, depois de tudo, aquelas pessoas tão amadas sofreriam tanto na hora de uma despedida covarde, compulsória, terrivelmente triste.
Com o passar dos tempos, foi experimentando perdas. E choros. E dores. E despedidas. Esforçava-se para tentar estabelecer uma relação mais saudável com a morte, mas sempre que se via diante dela, arrefecia. Não parecia ter forças para resistir ao pavor da idéia de ver suas pessoas partirem...
Penalizava-se com a triste sina das mães e dos filhos. Idéia absurda separá-los! Jeito estúpido de desfazer o mais profundo dos laços de amor. Se não confiasse em Deus, teria visto até uma ponta de maldade nesse desígnio. Tentava entender, mas não conseguia.
Um dia, num cemitério, envolto por aquela atmosfera de pesar, avistou a bela mulher envolta por uma névoa. Espreitava tudo ao longe, atrás de um túmulo de aparência requintada. Rodeada de flores murchas, depositadas sobre a laje da sepultura, ela o chamou. Aliás, ele nem sabia ao certo como havia entendido o chamado, uma vez que a tal mulher não se moveu e nem ensaiou pronunciar nada. Mas o chamou, sabia. Sentira.
Disfarçou e se afastou do grupo que acompanhava aquele sepultamento quando o padre parecia já prestes a terminar sua ladainha. Aproximava-se da mulher e a névoa parecia se tornar mais forte, deixando mais difícil qualquer tentativa de desvendar o rosto da interlocutora. A névoa tinha um cheiro doce, que, contraditoriamente, parecia-lhe familiar e desconhecido demais. Esforçava-se para interpretar o cheiro quando ouviu, sem que a moça nada falasse...
- Assim é, assim será. Com você, com todos. Vês o padre? Agora encomenda o corpo. E amanhã terá o próprio corpo encomendado por algum colega.
Assustou-se. Como ela falava se não mexia a boca? Pensou em perguntar a identidade da interlocutora, mas notou que sua boca também parecia agora incapaz de se mover. Notou nos olhos dela uma expressão serena, e a estranha conversa prosseguiu.
- Sou esse alguém de quem tem tantas mágoas. Esse alguém por quem sempre rezaste a pedir que me mantivesse longe de ti e dos teus. Quanta preocupação, filho! Não se deve ter revolta contra a ordem natural das coisas, nem tampouco pensar tanto sobre isso. Apenas se deve viver, preocupando-se com a felicidade e com a felicidade de todos que se ama e que amas também. Não se deves deixar que a dureza do mundo petrifique o coração, e nem que o torne tão gelado quanto o tampo dessa sepultura. É preciso viver com as pessoas queridas momentos de amor e alegria; e, assim, elas seguirão para sempre guardadas no coração e na lembrança. E quando a hora chegar, haverá a saudade, mas também o conforto e a certeza de se ter dado o melhor a cada uma delas.
- Pense nisso, filho - continuou a moça, tocando seu rosto com sua mão translúcida e quente - e desapega-te. Do mundo, das pessoas, das coisas que te disseram sempre ser de valor. Porque se há tolos que temem o fim de tudo, mais tolos são os que se apegam à matéria e às coisas da matéria. Acumulam jóias, dinheiros, carros importados, roupas caras e toda sorte de quinquilharias que nunca serviram a nenhum deles quando lhes chegou a hora de largar esse mundo pra trás.
Sentiu como se lágrimas escorressem por seu rosto quando a moça lhe disse que todos seus amigos e familiares que haviam partido sempre olharam com carinho por ele. Intercediam em seu favor e faziam o possível para evitar que suas angústias e sofrimentos tirassem a alegria contagiante que tinha quando estava na companhia daqueles que amava. Chorou quando ela disse que nunca mais ficara só, mesmo nos momentos de mais extrema solidão.
A sensação era de uma estranha afeição por aquele alguém de quem, até então, guardara apenas mágoas e medo. Tudo nela lhe parecia tranqüilizante: a voz, o toque das mãos, o perfume indecifrável daquela névoa que agora também o envolvia. Olhos ainda marejados, encarou a bela moça e, enfim, conseguiu dizer algo, enquando a mãe jogava um arranjo de flores sobre o caixão do filho:
- Queria muito poder, mas sinto que não tenho como lhe agradecer por essa nossa conversa...
E ela segurou sua mão suavemente, tocou seu rostou com a outra mão - igualmente macia - e, pela primeira vez como fazem os humanos, disse:
- Não precisa dizer nada agora. Ainda há tempo para conversarmos mais.
E a névoa se tornou novamente espessa, envolvendo os dois. Convertidos naquela espécie de fumaça cheirosa, ganharam o céu e se misturaram às nuvens daquele fim de manhã de inverno enquanto a mãe dele, o morto, desmaiava ao ver a primeira pá de terra cair sobre o caixão do filho...

Será que o público vai seguir esse caminho?

Nova novela da Record mistura elementos de sucessos nacionais e internacionais e lança no ar uma pergunta: o telespectador brasileiro vai embarcar na trama dos mutantes?


Na semana passada, a Rede Record estreou mais uma novela, "Caminhos do Coração". O elenco é cheio de estrelas e a emissora tem se mostrado capaz de produzir folhetins capazes de conquistar a audiência. O que, diga-se de passagem, eu acho muito positivo. Baseado nisso - e numa propaganda fortíssima de minha mãe, já uma fiel espectadora das novelas do canal, fui dar uma conferida...
Não vi a estréia e, pelo que li, perdi algo bem próximo de uma super-produção. Vi parte do capítulo de sexta e o de sábado. E, nadando contra a maré ou não, não gostei. Primeiro, uma cena do personagem de Walmor Chagas jogando m... no ventilador na própria festa de aniversário, cuspindo marimbondos contra a família, os acionistas da empresa e afins. Achei forçada e ficou nítido um certo constrangimento de alguns atores na seqüência (incluindo o grande Walmor).
Vi algumas cenas de Bianca Rinaldi e não me custa dizer que ela é o destaque positivo da novela. Além de linda, a ex-paquita mostra que há vida inteligente depois da aposentadoria do cargo de ex-assistente da Xuxa. Não deve nada a um monte de atrizes que a gente vê por aí...
Se Bianca é o destaque positivo, o destaque negativo é a história dos mutantes. Sabe o que parece? Que o autor juntou "Barriga de Aluguel" - que já tinha como um dos cenários uma clínica de genética; "O Clone" - com o cientista Albieri; "Heroes" e "X-Man" e deu no que deu. A trama ficou forçada e não há realismo fantástico que salve da catástrofe uma cena na qual a veterana Ana Rosa tem que aturar uma garotinha gritando e estourando todos os vidros da casa. Felipe Folgosi, coitado, também precisou se empenhar para parecer verdadeiramente preocupado com a esquisitice da criança, que acabou por tacar fogo numa parte da casa. E, no capítulo do dia seguinte, ainda repetiu a dose num cemitério - dessa vez, no entanto, numa seqüência de produção infinitamente melhor.
Além da "soprano destruidora", há o menino lobo. Tadinho. Encara um personagem constrangedor..."vou chamar meu cachorro", diz ele, ameaçando um mendigo que lhe perturba. E tome sonoplastia de lobo, de latido e a gritaria da vítima do "Mogli versão Record..."
Também vi trechos de uma seqüência de um outro mutante, um molecote que corre que nem o "The Flash", lembram? Serginho Malheiros vive esse menino e, ao menos na cena que vi, os efeitos da Record mostraram convincentemente o tal poder do garoto.
Outra criança com poderes especiais é uma menininha linda. Que tem asas. Numa das cenas que vi, ela e a irmã chegam em casa e dizem ao pai que o segredo (as asas) quase foram descobertas na escola. "A tia disse que ela está com uma corcunda grande demais, pai", diz a irmã da menina alada.
E ainda tem a Preta Gil - que eu acho divertidíssima - ainda longe do tom de sua personagem. Por aqui, são apenas caras e bocas...
Demais pra minha cabeça...! Vamos ver se o público está preparado pra um realismo fantástico tão fantástico assim...

sábado, 1 de setembro de 2007

De volta ao Second Life...

Antes e depois: avatar do blogueiro chegou em versão bronzeada ao Second Life. Depois, embranqueceu a la Michael Jackson, teve a "síndrome da dança compulsória" e se deparou com muito funk na Ilha Brasil...

Há cerca de 10 meses, falei aqui sobre o Second Life. Na época, já se tratava de um fenômeno virtual. Agora a coisa está bombando ainda mais, com empresas vendendo produtos e serviços por lá e pessoas ganhando dinheiro. E há também uma explicação para a o boom do SL entre os brazucas: o lançamento da Ilha Brasil, um (cyber) espaço pensado pra que nós possamos nos sentir em casa por lá.
Pois bem. Fui pautado pra fazer uma série de reportages sobre tecnologias novas e resolvi me meter de novo no tal do Second Life. Desta vez, já cheguei lá vestido, o que foi um alívio pra mim...
Pausa para explicação: da outra vez, apareci peladão por lá e um americano me disse que não poderia ficar assim. Me passou uma espécie de código - se não me falha a memória - e eu aceitei. Depois, um colombiano chegou perto de mim e quis saber o motivo de estar usando roupas femininas. Sim, caros, o americano tinha me passado um baita trote!
Bom, cheguei vestido e morenaço. Num hall onde, de cara, já se pode mudar a aparência. Resolvi dar uma de Michael Jackson e clarear a pele porque, afinal, estou longe de ser o moreno que tinha aparecido na tela.
Depois de dar uma guaribada nas roupas também, notei a primeira coisa curiosa de lá: no tal hall onde as pessoas customizam seus avatares, não havia um bonequinho gordo sequer. Ou melhor: alguns até parecima meio rechonchudinhos, mas é de tantos músculos que os donos resolvem inflar em suas versões cibernéticas.


Em seguida, saí direto do hall dos milagre para uma pista de dança...vazia. Cliquei numa bola e...tcha-ran: comecei a dançar alucinadamente - como você pode constatar no vídeo aí de cima! Nem precisava encostar no teclado: o avatar se chacoalhava sozinho, no piloto automático (é isso mesmo: a coreografia ridícula do rapazinho não é de minha responsabilidade!). Quis ir em frente, pra explorar a tal ilha e, confesso, foi complicado caminhar com o bonecote fazendo passinhos de hip-hop e street-dance.
Sanada a incontinência-dançante do avatar, fui pra tal Ilha Brasil. E me surpreendi: sabe o que estava tocando? Funk! Sim, leitor amigo, há a opção para permitir que você ouça música. E eu, incauto, tinha permitido! Além do som (com funks atuais, os mesmos das boates da "vida real"), fiquei impressionado com a quantidade de bonequinhos na ilha. É até complicado caminhar por lá. E, de cara, anúncios, muitos anúncios: portais da internet e até um grande jornal têm suas marcas expostas por lá.
Pelo visto o negócio, no sentido mais mercadológico da palavra, já pegou aqui no Brasil.
Em breve Muka Nicholls, o correspondente do B@belturbo no Second Life, mandará mais notícias. Como diria o Silvio Santos: "Aguardem!"