sexta-feira, 29 de maio de 2015

Sobre debater e respeitar...

As redes sociais tornaram os diálogos calorosos, a despeito de barreiras como as impostas pelas distâncias geográficas. As infinitas possibilidades de interação enriqueceram as trocas pela internet e acabaram por nos colocar em contato permanente com gente de todos os cantos do mundo. Um grande ganho, sem dúvida, para quem está disposto a refletir, trocar impressões e crescer - mesmo com eventuais discordâncias. 
Acontece que as opiniões que antes partilhávamos apenas com os mais próximos agora estão acessíveis a todos. Aos que pensam parecido e aos que se opõem completamente. Aos que sabem e aos que não sabem argumentar. Aos que querem o diálogo e aos que querem apenas o embate superficial. Aos que acreditam nas trocas e aos que apenas parecem interessados em disputar uma cansativa queda de braço ideológica. Aos que refletem e aos irresponsáveis, incapazes de pensar nas consequências de opiniões e atitudes expostas na web...
E aí, meus amigos, é bem difícil. Não acho que todos tenhamos que concordar, não quero me cercar apenas de pessoas com pensamento idêntico ao meu e muito menos me coloco como dono da verdade - até porque, convenhamos, a verdade sempre vai ser relativa. Mas creio que há premissas e valores fundamentais; norteadores de nossos discursos e ações. Quando percebo que um eventual amigo cruza essa fronteira em seu perfil numa rede social, fico na minha. Mas não posso tolerar que a ultrapassagem de limites se dê na minha página; seja no Facebook, no Twitter, no WhatsApp ou aqui no blog. Por isso, tenho buscado me afastar dos que disseminam preconceitos, dos que fomentam qualquer prática discriminatória e dos que defendem qualquer postura que não me pareça ética ou compatível com o que determina a nossa legislação. Não posso achar aceitáveis colocações de quem defende a tortura, por exemplo. Ou de quem prega o extermínio, seja de quem for, sob a alegação que for. Sou do bem, sim. E sou, sempre, pela lei e pela vida.
Como jornalista e cidadão, milito no campo da responsabilidade pelos discursos e narrativas que (re)produzimos. Nesse sentido, acho que podemos desempenhar, todos, uma função formativa. Não é louvável defender qualquer prática criminosa; muito menos - e esse tem sido o tema dos debates mais recentes - justificar qualquer forma de violência como uma reação às ações de uma parcela da sociedade considerada como "do mal".
Não acredito nessa lógica maniqueísta, superficial demais para ser aplicada a seres tão complexos quanto os humanos. Somos, todos, "do mal" e "do bem". O que nos diferencia são as oportunidades a que tivemos acesso, a rede de afetos que nos cercou, as experiências de vida e as trocas com nossos pares. Essa geleia geral nos forma e, em alguns casos, deforma. Entender essas variáveis nos torna capazes de olhar para a realidade do outro, diverso, com empatia; buscando o entendimento. E vale a ressalva: compreender não é sinônimo de pactuar, de defender, de aceitar ou de perdoar. Compreender é perceber que cada um é único e faz escolhas com base no repertório que pode construir ao longo de sua caminhada - também única - pela vida. E compreender é reforçar que para os que se desviam dessa estrada, o limite é o das leis. As mesmas leis que valem pra mim, pra você, pra presidenta da república. Porque, por mais que muitos relutem, somos todos humanos. E a violência, o ódio, a ganância e a delinquência são, também, características dessa nossa estranha raça.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

150!



Havia, em algum lugar, esse outro alguém. Esse outro alguém de fala mansa e brilho nos olhos, de sorriso matinal e sono invencível, de doçura e entrega...
Alguém que soma, impulsiona, orienta, acalma e acalanta. Alguém que sonha junto e ensina que os melhores sonhos são os que sonhamos de pés no chão. Alguém que traz segurança e aconchego. Alguém que fala os maiores impropérios pra me arrancar as maiores gargalhadas. Alguém que desperta orgulho...
Esse alguém que surgiu não como uma aposta, mas como uma improvável certeza. Porque não nos conhecemos: nós reconhecemos. E esse alguém surgiu como um velho conhecido que havia experimentado uma ausência prolongada. Como quem sempre soube do seu lugar. 
Aqui...

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Redução, não!

Capas de hoje de O Globo e Extra: a sociedade precisa escolher entre duas formas de olhar para uma questão séria como a da maioridade penal

O caso do cardiologista assassinado na Lagoa, no início da semana, reacendeu várias polêmicas. A mais visível diz respeito à redução da maioridade penal. Movidos pela certeza de que o autor do crime foi um menor de idade e aparentemente estimulados pela prisão de um menor suspeito de praticar o crime, defensores de uma revisão drástica do ECA puseram a cara no sol e transformaram as redes sociais numa espécie de palanque em defesa da barbárie institucionalizada. Vi de tudo: gente defendendo uma nova Chacina da Candelária - e se oferecendo para integrar o grupo de exterminadores; gente defendendo tortura; gente (?!?!) defendendo que se faça justiça com as próprias mãos. Gente que quer punir seus supostos algozes praticando carnificina tão ou mais sangrenta do que aquela que nos tem assustado diariamente.
Mas essa foi apenas uma das polêmicas: desde as eleições do ano passado, todo fato capaz de mobilizar as atenções das massas tem servido de base para que reacionários de diversas estirpes promovam seu discurso de ódio, simplista, incapaz de qualquer complexificação. Repetem suas verdades absolutas como mantras e, quando encontram eco, tentam desqualificar e desconstruir quem pensa diferente com argumentações vexatórias. "Tá com pena? Leva pra casa!", dizem, tal qual a âncora de um telejornal fez ano passado. "Quer defender, adote um", repetem, também à exaustão.
Pessoas que não conseguem ir além da barreira do senso comum e, assim, tentam se manter confortavelmente num patamar em que se percebem como o lado bom, responsável por exterminar o lado mau da sociedade.
Sou contra a redução da maioridade penal, por vários motivos. Primeiro, porque acho que o sistema carcerário brasileiro tem se mostrado incapaz de promover a ressocialização - tarefa para a qual foi concebido e que jamais cumpriu. Colocar jovens nesses depósitos de gente é nos condenar a todos: eles, a uma vida de marginalidade. E o restante da sociedade, por se manter refém de pessoas que quase sempre saem das prisões piores e mais violentas. Sou contra a redução da maioridade penal porque acredito que a sociedade tem que aprender a cobrar dos governantes o cumprimento da legislação e, no caso, do ECA, reconhecido como uma das mais avançadas legislações do mundo. Sou contra a redução da maioridade penal porque sociedades desenvolvidas de todo o mundo estão caminhando no sentido oposto, elevando a maioridade penal, garantindo mais proteção e assistência aos jovens. Sou contra a redução da maioridade penal porque crianças e adolescentes que cometem crimes são uma parcela ínfima diante do total de menores de idade e, quando analisamos as estatísticas de violência contra crianças e adolescentes, descobrimos que o números de vítimas nessa faixa etária é muitas vezes superior. E, por fim, sou contra a redução da maioridade penal porque não há relatos de um único país no mundo em que essa medida tenha se mostrado eficiente para combater ou debelar a violência. Ou seja: uma sociedade mais segura não nascerá de um ímpeto conservador e revanchista.
Ser contra a redução da maioridade penal, no entanto, não faz de mim um automático defensor de marginais. Não! O que eu quero é que a lei seja cumprida; que eles, quando condenados, cumpram todas as medidas cabíveis e retornem para a sociedade como pessoas melhores. Mas, para isso, a sociedade precisa melhorar; acreditar que isso é possível e que todos, sem exceção, somos frutos das oportunidades a que tivemos acesso. Eu, felizmente, tive a oportunidade de estudar, me alimentar bem, viajar, fazer cursos, ter uma família amorosa e de trabalhar com o que amo. E o que podemos esperar de quem já nasce condenado a não ter oportunidades? 
Sim, há pessoas que, mesmo assim, sem grandes perspectivas, não trilham o caminho da marginalidade. E elas são a maioria. Mas, de uma forma ou de outra, elas receberam uma oportunidade. Um exemplo familiar de trabalho honesto, a crença religiosa, um professor que fez a diferença em sua trajetória escolar - não importa: sempre há a presença de um bom exemplo associado a alguma oportunidade de seguir no caminho da correção. São esses exemplos que devemos semear, para que possamos colher uma sociedade plena de oportunidades para todos.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

A #DietaDoMuka...

Em sentido horário: desjejum, almoço, lanche da tarde, pré-treino, jantar e ceia: as seis principais refeições do primeiro dia da dieta...
Iniciei uma dieta há 10 dias. Desde então, tenho publicado - sobretudo no Instagram - fotos e pequenos relatos dessa aventura que é reduzir a quantidade de calorias ingeridas diariamente. Diferentemente de todas as dietas que já fiz - algumas bem radicais, como a da proteína e a Dieta Dukan - dessa vez eu busquei ajuda de uma nutricionista. E não escolhi uma nutricionista qualquer, escolhi minha prima, Bia Dutra, alguém que eu amo e em quem confio incondicionalmente.
E lá fomos nós redesenhar minha dieta, estabelecendo regras, cortando os excessos e suprindo carências. E, de cara, percebi que o ingrediente fundamental desse novo plano nutricional é a disciplina.
Disciplina pra comer de três em três horas - coisa que nunca tive o hábito de fazer, mas que é fundamental pra quem quer emagrecer. Ao fazer as refeições em intervalos menores, a gente acaba por consumir porções reduzidas e mantém, assim, o metabolismo sempre alerta. É como se ele fosse o ponteiro da reserva do carro com pouco combustível: como o tanque nunca está cheio, não sossega jamais!
Disciplina pra ir ao supermercado com mais regularidade - coisa que também nunca me agradou - já que boa parte dos alimentos que passaram a fazer parte do meu cotidiano precisam estar frescos. São verduras, legumes e frutas, que trazem sabores e nutrientes fundamentais para o sucesso da dieta.
Disciplina pra preparar as refeições. Todos os dias. Do café-da-manhã ao jantar, passando pelas marmitinhas de lanches que preciso consumir durante a tarde, e, também, antes e nos intervalos dos treinos na academia.
Disciplina pra manter uma vida social, sair com amigos, ir a festas e me manter fiel a um propósito capaz de me dar um resultado muito mais saboroso que um prato de batata-frita com queijo e bacon do Outback - por mais que seja tentador - e é, muito! - dar uma escapulida e meter o pé na jaca. Ou na batata, no caso...
O primeiro dia foi o mais difícil; lembro bem de acabar de almoçar morrendo de fome. Não é exagero: seria capaz de comer mais uns dois pratos daqueles. Resisti! Fiquei mal humorado, irritado, cansado e sem ânimo. A sensação só passou depois do treino na academia, por conta, imagino, das substâncias relacionadas ao prazer que são liberadas no organismo depois de uma atividade física. 
Do segundo dia em diante, os progressos foram imensos. A sensação de fome foi diminuindo continuamente, trazendo a clara noção de que o corpo já estava acostumado ao novo padrão de alimentação. E fui percebendo outros benefícios: o sono melhorou e o mesmo aconteceu com a disposição ao acordar. Passei a comer mais frutas e, não sei se há relação direta, as crises de espirro foram reduzidas ao longo dos últimos dias. A gastrite sumiu. Depois de quarenta dias sem atividade física, recuperei a forma em uma semana e já estou correndo diariamente meus 6 ou 7km. Enfim, sinto o corpo funcionar muito melhor. E a balança já dá os primeiros sinais de que estou mesmo no caminho certo.
E por que escrevi esse texto? Por que posto as fotos da dieta? Por quê? 
Porque obesidade é um problema de saúde em todo o mundo, inclusive no Brasil. Porque os apelos de consumo são, majoritariamente, voltados para uma alimentação junkie, que, embora saborosa, traz consequências graves para o corpo. Porque fazer uma dieta mais saudável pode ser simples e gostoso e, se eu estou conseguindo, muita gente que não se sente estimulada também pode conseguir. E, por fim, porque as redes sociais são utilizadas pra tanta coisa inútil...! Acho bacana usá-las pra dividir inspirações também. E funciona: não é à toa que tenho recebido mensagens tão legais de amigos e seguidores. Se a gente compartilha fotos de festas, de viagens e passeios, por que não compartilhar um ideal de saúde também?
É isso! E #vamoquevamo!!!

terça-feira, 5 de maio de 2015

Sobre o panelaço de hoje...

Panelas são protagonistas de mais uma manifestação dos insatisfeitos com o rumo do país...

Na noite desta terça, a propaganda política do PT deu origem a mais uma manifestação coletiva em algumas regiões do país. Novamente, de acordo com os primeiros relatos, o som das batidas das panelas ecoou nas áreas mais nobres, como a Zona Sul do Rio de Janeiro. Como escrevi no Facebook, acho válidas todas as manifestações pacíficas. Achá-las válidas, no entanto, não significa que eu as ache eficazes.
Mas não me preocupo com o som das batidas das panelas...
Mais que o barulho do panelaço, o que me assusta mesmo é o silêncio dos que se calam diante da surra dada pelo governador tucano em cerca de 300 professores paranaenses na semana passada...
Ou dos que se calam diante da possibilidade de aprovação da lei de terceirização, que pode oficializar uma tungada histórica nos direitos trabalhistas...
Mais que o barulho do panelaço, me assusta o som das vozes que se erguem contra um programa social que mata a fome de muita gente nos rincões do país. Ou as vozes que se levantam contra as cotas, contra os direitos das domésticas, contra a criminalização da homofobia, contra a laicidade do Estado.
Mais que o barulho do panelaço, o que me espanta mesmo é a cegueira política de quem não sabe quem assume se Dilma for derrubada, de quem não sabe do currículo dos que se apresentam na linha sucessória e, ainda, sequer sabe diferenciar as atribuições da presidenta das atribuições de um vereador.
Por fim, mais que o barulho do panelaço, me assusta mesmo é a hipocrisia de quem sonega o Imposto de Renda com notinhas geladas e sai por aí, com a camisa da seleção, gritando contra uma corrupção abstrata, sem se tocar do quão é tocado por essa praga e de como ajuda a alimentá-la cotidianamente.