segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Aquele abraço...

A mais remota lembrança que tenho tua, creio, é a de um angu à baiana passado do ponto. Verdade convertida em lenda, gerando horas e horas de muita risadaria para toda a minha família. Recordo da festa, da gincana, da corrida de saco, de equilibrar o ovo cozido na colher em tua vila.
Também me lembro do seu jeito doce de me dar adeus sempre que passava por tua casa, a caminho da casa de meus primos. Das piadas pesadas que contava a todos, todas as noites, e do curioso som de sua gargalhada, quando éramos nós os contadores de anedotas...
E no dia mais triste da minha vida, quando meu pai se foi e levou com ele o chão em que eu pisava, corri desesperado em busca de um abraço qualquer que fosse capaz de me fazer crer que aquele era o pior pesadelo já sonhado por mim, molecote de 10 anos. Foi teu o abraço que encontrei. Ele não me desmentiu a morte de meu querido pai, mas me aconchegou; me fez sentir protegido e fez arrefecer um bocado aquela estranha dor tão inédita e tão forte.
Ontem, cheguei em casa com um sorriso nos lábios depois de vencer um grande desafio e a notícia de tua partida me fez chorar. Chorei porque, prepotente que ainda sou, discordei do fim triste que a vida te reservou. Chorei porque não haverá mais risadas, nem piadas contigo. Chorei porque lembrei que, há um ano, quando te vi pela última vez, teus sentidos já estavam embaralhados e já parecias uma menina confusa, assustada e desprotegida. E, sobretudo, chorei por nunca ter aproveitado uma única oportunidade para lhe dizer o quanto aquele abraço de 16 anos atrás havia sido importante pra mim.
Chorei porque vou sentir saudades de ti, dona Narcisa.
Rezo para que Deus a ponha num bom lugar...

Nenhum comentário:

Postar um comentário