quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Torcendo pela virada de página

"E então, diante dela, finalmente ouviu o que não queria. A frase, que tornava concreto o maior de seus medos, veio acompanhada de um forte golpe em seu estômago, de uma mão que parecia lhe espremer a garganta; de uma angústia que iria acabar por estourar-lhe o coração.
Coração! Pra que temos isso, pensou. Para doer, sofrer e sangrar até morrer? Pra que nos engane, revelando amores eternos que acabam quando a gente menos pode supor? Pra que nos magoe e que acabe por nos tirar a capacidade de acreditar nas coisas puras, na beleza do amor e no final feliz?
Renegava o coração, já castigado pela intensidade daquela dor. As lágrimas eram o sintoma mais forte de que estava mesmo ferido de morte. Morte de seus sonhos, morte da esperança de que aquela fosse apenas uma fase e, portanto, passageira. Morte de seus sorrisos, morte de todos os planos de férias felizes, de Natais e demais festas reunidos ao redor da mesa grande, com as crianças correndo e cobrando presentes. Morte do prazer que só sentia com ela, e que sempre achou que seria o único capaz de proporcionar a ela. Morte, também, dela...a menina que tinha se tornado a mulher de sua vida ao longo de todos aqueles anos juntos. Garota astuta, que tanto lhe havia ensinado. Mas que não o havia preparado para sua ausência. E nem para o fim."
+ + +
Fechou o livro na hora em que o mocinho chorava. E torceu para que tudo aquilo passasse logo, para que a página seguinte virasse depressa e que, nela, só coisas boas estivessem reservadas àquele cara tão bacana, tão gente boa.
Quando adormeceu estava pensando nisso...

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