sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sobre Roberto Canázio e o rádio: força que nunca seca...

Ontem, no caminho para o trabalho, fui ouvindo rádio. Mais precisamente, a Rádio Globo. Há cerca de um mês, a Globo também é transmitida em FM, o que possibilitou que motoristas passassem a captar o sinal da emissora, antes detido pelas inúmeras montanhas que compõem a topografia carioca.
Ouvi o programa do Roberto Canázio, radialista experiente, que minha mãe costumava ouvir na época em que eu estudava. Canázio é um comunicador popular, carismático, dono de uma voz potente e de um humor bem ácido.
Pois bem, estava eu ouvindo o programa, achando graça das particularidades do rádio AM agora levadas para a FM quando começou um quadro chamado "Cadê Você?". O formato é o seguinte: um ouvinte liga para o programa para encontrar alguma pessoa importante em sua vida. No ar, conversando com Canázio, o participante dá o nome e outras referências de quem deseja encontrar. Nada muito original, é verdade. Mas o que me chamou a atenção foi a história do "personagem" que participou ontem: um senhor de 90 anos, que queria encontrar duas sobrinhas. A simpatia daquele senhor logo me capturou para aquela história. Solitário, ele dizia ter perdido tudo: os filhos, a mulher, os irmãos. Vive só, em São Paulo, com a sua aposentadoria. Nunca fumou ou bebeu. Praticava vários esportes num clube, até cair e comprometer os movimentos de uma das pernas. Narrou os tempos em que Silvio Santos era funcionário da Rádio Nacional. E, com uma doçura impressionante, contou:
- Eu não tenho mais ninguém. Ando pela rua com minha bengala sem que ninguém me dê a mão. Hoje, somos só eu, Deus e o meu rádio...
Canázio se emocionou. E eu, dentro do meu carro, também. Fiquei pensando na força extraordinária desse veículo fascinante e no número de velhinhos e velhinhas que encontram nesses aparelhinhos a companhia que a vida lhes roubou. E, mais que em tudo isso, fiquei pensando no sentido da vida. Será que há um, afinal? O que faz com que um senhor, depois de nove décadas vividas e de tantas perdas acumuladas, siga em frente? O que determina que o caminho desse homem seja o da solidão? E que diabos estamos fazendo aqui?
O rádio - e o programa do Canázio - não me deram as respostas. Mas me fizeram pensar...

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