terça-feira, 16 de março de 2010

B@belturbo entrevista: Fabio Porchat


Os limites do humor em debate no B@belturbo...
Integrante do Comédia em Pé, o primeiro grupo de stand up comedy brasileiro, Fabio Porchat lida com o humor nas mais variadas formas. Se no teatro ele se vale das influências vindas dos Estados Unidos para fazer milhares de brasileiros rirem sem figurinos e personagens; na televisão, é um dos responsáveis pelo texto do Zorra Total, humorístico da Rede Globo que trouxe para os anos 2000 um humor baseado em bordões e personagens que caem facilmente no gosto do público, uma velha tradição nos programas humorísticos da TV brasileira. Na mesma Globo, Fabio é redator e ator no quadro Exagerados, que leva graça ao Fantástico. E integra, também, a equipe responsável pela redação do programa Caras de Pau, estrelado por outras feras do humor: Marcius Melhem e Leandro Hassum.
Em cartaz no Rio, no Teatro dos Grandes Atores, na Barra, Fabio Porchat aceitou prontamente o convite do B@belturbo para discutir algumas questões polêmicas relacionadas ao dia-a-dia de quem vive fazendo graça.

B@belturbo: Há limites para o humor?
Fabio Porchat: Não. Você pode fazer humor com tudo, qualquer coisa que você quiser, a questão é saber se aquela é a platéia certa. É claro que existem assuntos mais delicados que outros, mas, de um modo geral, se alguém rir, é humor. Talvez o limite seja: ninguém riu, logo, não faço mais essa piada.

B@belturbo: Quais são, na sua opinião, os maiores tabus em relação ao humor? Ou qual o tipo de piada mais polêmico? E qual a sua opinião em relação a esses tabus?
Fabio Porchat: É a platéia que dita o que é engraçado ou não. Os tabus são os tabus daquela platéia especifica que está ouvindo sua piada. Claro que essa platéia pode ser muito maior que num teatro, quando a sua piada é dita na tv ou na internet. Sua platéia pode ser um país, logo, os tabus aumentam. De um modo geral, atacar alguém que é amado por aquela platéia, não te fará o cara mais popular naquele nicho. Exemplo dentro do Rio de Janeiro: na Barra eu posso falar mal do Gabeira, mas não do Eduardo Paes, pois ele é de lá. Já na Gávea, acontece o contrário. Eu acho que, de qualquer forma, o comediante não pode querer ser amado por todos, porque toda a piada fala mal de alguma coisa ou de alguém. Em algum momento, alguém vai se sentir ofendido. E de um modo geral, os brasileiros tendem a não levar as piadas na esportiva.

B@belturbo: Sobre que tipo de assunto você evita /não faz piada?
Fabio Porchat: Não faço piada política. Mas pelo simples fato do brasileiro ser tão desinformado e tão desinteressado que ele não sabe de quem eu estou falando, ou que fato eu estou citando. As pessoas sabem quem é o Lula, e olhe lá.


"As pessoas levam o humor a sério demais", diz Fabio Porchat
B@belturbo: A sociedade / o público pode cobrar esse tipo de cuidado de quem se propõe a fazer humor?
Fabio Porchat: Acho que cobrar cuidado é censura. Alguém cobra cuidado do cinema? Do teatro? Acho que a sociedade pode é achar ou não graca, isso já é medida suficiente.

B@belturbo: Alguns humoristas criticam uma certa \"patrulha do humor\" e se queixam do chamado \"politicamente correto\". Você concorda? O humor tem sido patrulhado?
Fabio Porchat: O politicamente correto é um inferno. E no Brasil isso é uma praga. Porque a patrulha do humor faz uma das piores coisas do mundo, diz o que é certo e o que é errado. Isso é nojento. Ainda mais hoje em dia, onde não existe mais ‘ou um ou outro’. Tudo é certo e errado ao mesmo tempo. Mas é que aqui no Brasil temos um moralismo velado. Na verdade, tudo é velado. O racismo, o preconceito, machismo… Enfim, e o moralismo é a coisa mais antiga do mundo. É quase medieval o que vemos muitas vezes. Como por exemplo tirarem do ar a propaganda da Devassa. Um absurdo. A mulher pelada pode, mas a mulher sensual não. As pessoas levam o humor a sério demais. Elas esquecem que aquilo é apenas uma piada.

B@belturbo: De que forma é possível fazer humor sem cair nas amarras do politicamente correto e, no entanto, sem ferir o bom senso? Aliás, isso é possível?
Fabio Porchat: Não é possível. Fazer humor tentando agradar é uma coisa fadada ao erro. Você pode até conseguir fazer isso por cinco minutos, mas ele vai perder a graça logo depois. Nós brasileiros temos a tradição de rir do outro. O burro é o português, o filho da puta é o argentino, viado é o filho dos outros… Quem que é corno no Brasil? A piada, tão forte aqui no Brasil, sempre mostra um outro se dando mal. Nos EUA, por exemplo, o primeiro a se dar mal é você. Num show de humor lá, o comediante primeiro se sacaneia, depois sacaneia os outros. Ele primeiro diz que está gordo, depois ele diz que ser gordo é um inferno. Eles sacaram uma coisa muito importante que é: é melhor eu rir de mim, antes que os outros comecem a fazer isso. Você vê pessoas como Obama, Al Gore, Sarah Palin, politicos importantes, candidates a presidencia da maior potência do mundo, indo a programas como o Saturday Night Live, e se sacanearem, brincarem com aquilo que seria o ponto fraco deles próprios. Quando o brasileiro perceber isso, teremos uma virada do humor no país.

B@belturbo: Pra encerrar, em uma palavra, como definir o tipo de humor que você faz?
Fabio Porchat: Engraçado.

NOTA: A entrevista foi concedida por e-mail e foi publicada na íntegra, sem edição.
Para entender a proposta da série Crise de Riso?, clique aqui.
Leia também o primeiro post da série, com Antonio Tabet, o Kibeloco.
Amanhã, no terceiro post, você vai conhecer as opiniões de Mauricio Zágari, jornalista, professor de Teologia, e um dos autores do livro Humor Vermelho.

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