quarta-feira, 11 de julho de 2007

O guri, o homem e a pandorga...

A desistência sempre lhe havia parecido típica dos covardes, dos que não têm força suficiente para persistir, tentar mais e mais até, enfim, conseguir alcançar o que se pretendia. Um conceito todo seu e todo formado quando ainda era jovem demais, com aquela pseudo-sabedoria-bem-intencionada que todo jovem tem.
E veio a vida, a cada esquina se fazendo diferente do que imaginara...
E veio o coração, quase sempre jogando num time que não parecia ser o seu...
E veio o tempo, derrubando barreiras e mudando idéias. E ideais...
Um belo dia, sem o sofrimento que a simples idéia de desistir lhe causava antes, resolveu que era o que de melhor poderia fazer. Sem mágoas, sem dores. A isso chamou maturidade: a segurança de fazer a escolha que lhe parecia mais coerente. Antes que a vida, o coração e o tempo lhe trouxessem surpresas amargas; como, vez por outra, trazem a todos nós.A decisão, embora bastante pensada, fora difícil. E solitária. Mas lhe trouxe um alívio tamanho que aumentou ainda mais a certeza do rumo certo.
Foi quando avistou, da janela do carro, um moleque soltando pipa. Sorrindo, agitando os braços com força e precisão, lançando comandos que aquele pedacinho de papel, madeira e cola obedecia lá no céu azul. Por que o moleque solta pipa? Por que corta o dedo no cerol e, ainda assim, sorri? Por que cansa tanto os braços e parece gostar de tudo aquilo? Porque tudo aquilo lhe traz contentamento, pensou. Tudo aquilo lhe dá alguma dose de prazer.
O sinal verde veio e com ele, a buzina dos motoristas apressadinhos. Olhou pelo retrovisor e se viu no lugar do menino. Também sorria, como o garoto real. Mas sorria porque, no seu caso, o melhor fora abrir as mãos, deixar a linha escapulir por entre seus dedos e, assim, permitir que o vento, sozinho, desenhasse o caminho que aquela pipa deveria percorrer...

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