domingo, 3 de dezembro de 2006

Água da boa!!!

A casa de shows estava lotada. Artistas, colegas da imprensa, e o fiel público da Abelha Rainha; todos empenhados em prestigiar a estréia de "Dentro do Mar tem Rio". E ninguém teve motivos para se decepcionar...Posted by Picasa

Acho que nunca esperei tanto por um show quanto esperei por esse. Gosto dessa baiana há tempos, tenho vários discos dela, mas nunca tinha pintado uma oportunidade de vê-la num palco. Mas acho que a espera foi compensadora: ontem, lá estava eu quando Maria Bethânia entrou no palco para cantar as águas de mares e rios, com um repertório primoroso e um roteiro impecável. Belo cenário, sempre realçado por uma iluminação muito competente. Excelentes textos, de Guimarães Rosa, Sophia de Mello Breyner e Álvaro de Campos - esse último, bem longo, arrancou aplausos entusiasmados da platéia por sua (ainda atual) crítica social, embora datado de 1917, como a cantora faz questão de enfatizar.
É no balanço das canções que o mar de Bethânia conquista o público. "Eu que não sei quase nada do mar" - single de autoria de Ana Carolina e Jorge Vercilo que já toca bastante nas rádios - foi recebida com uma ovação. O mesmo aconteceu com "Sereia de água doce", composta por Vanessa da Matta, e com "Kirimurê", que homenageia a Baía de Todos os Santos.
A falta d'água também é tema de momentos densos do espetáculo, e Bethânia se vale da clássica "Asa Branca" - em bela leitura - e de "Grão de Mar", de Márcio Arantes e Chico César.
E também há espaço para as águas que falam de amor, como em "Poema Azul", de Sérgio Ricardo, e "As praias desertas", de Tom Jobim; e das dores do amor, como em "Lágrima", composição de Roque Ferreira, e em "A saudade mata a gente", de João de Barro e Antônio Almeida. E, num belo momento, o talento de Arnaldo Antunes e dos Titãs é reverenciado pela intérprete, que une "Debaixo d'água" - sobre as águas uterinas - e "Agora", numa levada meio rap. Sim, Bethânia é uma "menina antenada" aos 60 anos!
A porção divindade da artista permeia os dois atos do espetáculo. E fica evidente em cânticos que homenageiam as deusas das águas. Há vários deles, que se traduzem em belos momentos do da apresentação: "Canto de Oxum", de Toquinho e Vinícius, "Iemanjá Rainha do Mar", de Pedro Amorim e Paulo César Pinheiro, "A Dona do Raio e do Vento", também de Paulo César Pinheiro - agregada a um texto da própria Bethânia: a "Oração de Oiá".
Pra encerrar, a artista brinda a platéia com "Das maravilhas do mar fez-se o esplendor de uma noite", samba enredo da Portela; e com um pout-pourri que junta marchinhas de carnaval e "Chuva,suor e cerveja"; do mano Caetano.
Se você achou esse texto grande, ainda não viu nada! Muita coisa bonita precisou ficar de fora...!Grande mesmo é esse show, comandado por essa grandiosa artista brasileira, que soube se cercar de uma banda fantástica.
Nem preciso dizer que recomendo, né?

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