domingo, 22 de março de 2009

Bilhete derradeiro

Saído de mais um plantão no hospital, Renato chegou em casa e sentiu falta de barulho. Sentiu falta do cheiro de comida e da festa que os cães faziam cada vez que voltava do trabalho. Percorreu cômodos, chamou pelo nome da mulher, Marisa, e nenhum sinal denunciava que tinha companhia por ali.
Apesar da crise que se abatera sobre a relação, estranhou. E, estranhando, pôs-se a revirar o armário. Nele, preso no espelho, encontrou um bilhete.
Era a letra dela...

"Apagou. E por mais que tenha sido meu o maior esforço para que essa chama deixasse de arder, foram teus braços que jogaram o balde d'água derradeiro.
Agora, vejo a fumaça subir ao céu e, com ela, acompanho as lembranças de tanto tempo se dissiparem, uma a uma, como que abrindo espaço para novas histórias e novas imagens que espero guardar no futuro.
Congelou. O fogo e todo o resto. Convertidos em gelo, os sentimentos que estavam canalizados para quem não merecia, agora são destinados ao que me dá prazer. Ao que me faz sentir bem, mais e além de tudo isso.
Encerrou. E se nem sempre o fim é belo, não seria diferente numa história em que beleza foi, na maioria das vezes, um adjetivo pouquíssimo apropriado."

Fechou o bilhete, não antes de uma lágrima cair e manchar o papel.
Era o fim...

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