sexta-feira, 14 de março de 2008

Sobre o filme da "Loira Má"...

Marília Pêra faz rir em dose dupla no filme que marca a estréia do multimídia Miguel Falabella como diretor de cinema...

As mazelas, insatisfações, neuroses e esquisitices que fazem parte do cotidiano de todos nós ganham a tela no longa de estréia de Miguel Falabella - agora, também, diretor de cinema. Com roteiro igualmente assinado pelo eterno Caco Antibes e inspirado na peça "Como encher um biquíni selvagem", outro sucesso da lavra do artista multimídia, o filme traça um bem humorado painel da sociedade atual.
Encabeçado por Marília Pêra, genial nos papéis das gêmeas Magali e Magda, o elenco é de primeiríssima categoria. Arlete Salles, como a atriz à beira de um ataque de nervos, rende momentos hilariantes. E deixa claros os motivos de tanta reverência do diretor, que sempre a escolhe para seus trabalhos.
Stella Miranda, como Dulce, faz um trabalho primoroso. Na mais comovente cena do filme, não há quem não se identifique com a dor da mãe de fala mansa que revela como acabou indo trabalhar num centro de atendimento a suicidas. Aliás, vale o registro, Neusa Borges cumpre com muita eficiência o papel de coadjuvante nessa bela cena. E se comove, Neusa também faz rir. Numa ligação telefônica conturbada, a Crioula defendida pela atriz tem diálogos engraçadíssimos com Marília Pêra, Jacqueline Laurence e Arlete Salles. É o melhor do texto de Falabella, em diálogos ágeis, ácidos e hilários, a serviço de um dos momentos mais engraçados do filme.
Na ala masculina, o destaque é Otávio Augusto, vivendo o típico cidadão de classe média que morre de amores pelo automóvel - no qual, aliás, conserva os plásticos que envolvem os bancos. Uma clara referência falabellística à "pobreza", tão alfinetada por Caco Antibes...
Alexandre Slaviero destoa do restante do elenco e faz do seu Arnaldo um mauricinho um pouco over e, em alguns momentos, até um pouco afetado. Juliana Baroni, Ana Roberta Gualda e Nicolas Trevijano, no entanto, acertam em cheio em seus papéis.
Se Marcos Caruso parece pouco aproveitado e Natália do Vale aparece num tipo frio demais, Marília Pêra é só calor em seus dois papéis. E protagoniza uma cena que valeria o ingresso quando, surtada, Magali põe-se a reclamar da vida: "Um marido que ronca, um filho que bebe e uma irmã que liga a cobrar", diz a personagem, arrancando risadas fartas da platéia - aliás, pequena para um filme que poderia ter tanto apelo popular.
Enfim, Falabella estréia mostrando que tem fôlego para produzir também para as grandes telas. E se o filme tem alguns probleminhas técnicos, como a falta de sincronia entre áudio e vídeo em algumas cenas, o roteiro, os personagens e a fotografia - onde se nota uma forte influência da cinematografia de Almodóvar - tratam de dar ao público motivos de sobra para rir.
Recomendo para quem quiser se divertir sem grandes pretensões. E, cá pra nós, nada melhor do que rir despretensiosamente...

Nenhum comentário:

Postar um comentário