terça-feira, 23 de outubro de 2007

Rio e Mar

Quando do seu rosto fez-se o leito de um rio, notou que seus olhos eram fontes incessantes de uma tristeza que vinha de dentro do peito. Ali, daquele canto onde todos diziam que havia um coração de ouro, valiosa jóia inútil, eternamente despercebida. Ali, de onde, por tantas vezes, veio a certeza de estar diante da chance única de fazer reais todos aqueles sonhos bobos e sentimentais que guardara ao longo dos tempos.
Certezas tolas, tolos sonhos...
Tinha o rosto encharcado e contorcido por toda aquela dor; força da sua natureza traduzida em pranto. Respirava fundo, tentando encontrar uma calma há tempos perdida, mas só pensava em retratos rasgados, palavras não-ditas, decepções, e amores não-correspondidos. Pedaços de uma memória sofrida, de alguém que parecia marcado pela sina do eterno desencontro.
Por isso o mar, eterno revigorante.
Por isso aquela vontade de buscar-se a si mesmo.
Por isso a esperança de que seu rio de tristezas tomasse o caminho do oceano, mar adentro...

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