terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A praia da minha infância...

Quando eu era pequeno, uma tia muito querida tinha uma casinha de praia em Sepetiba, na Zona Oeste do Rio. Se você não é da Cidade Maravilhosa, eu conto: Sepetiba não está entre as mais belas e limpas praias do Rio, não é destino de celebridades e nem locação de novela das oito - embora tenha abrigado gravações de algumas antigas produções globais. Digo mais: hoje, Sepetiba é uma região meio moribunda, de águas escuras, poluídas, de aspecto mais próximo ao de um mangue que ao de uma zona praieira.
Mas lá pelos meus 8, 9 anos, a coisa era diferente. Frequentávamos a praia Dona Luísa - mais tarde rebatizada de Praia do Recôncavo - e era comum encontrarmos águas pacatas e limpas no início das manhãs e no fim das tardes, quando a maré já estava mais alta e até algumas ondinhas agitavam nosso balneário. A lama escura já dava as caras lá no fundo do mar, mas não nos importava: para alguns, crentes de que aquela substância viscosa tinha propriedades medicinais jamais comprovadas, até se besuntavam com aquele lodo cinza-esverdeado.
Passei muitas férias na praia de Dona Luísa. Jogávamos bola, nadávamos - havia mar pra isso na época! - e, durante a noite, meus primos e tios passavam o arrastão e jogavam puçás para pegar camarões, siris e caranguejos. Era uma farra que nós, os menores da turma, acompanhávamos de longe. E, depois, outra farra: acompanhar minhas tias e minha mãe preparando os pescados que faziam a alegria da família nas noitadas de buraco, dominó e sueca...
A casa da minha tia ficava na Rua Nunes, que desembocava bem em frente ao mar de Dona Luísa. Caminhávamos uns 7, 8 minutos ouvindo o canto das cigarras, sentindo o perfume das mangas e, depois, estávamos lá, diante do nosso mar. A proximidade, no entanto, não impedia que, quando a fome batesse, comprássemos nossas guloseimas na beira d'água. E eu me lembro muito bem dos meus dois quitutes preferidos: coxinha de galinha e cuscuz. Eram deliciosos! O cuscuz, então, é sem igual! Havia um senhor que passava, sempre no fim das tardes, empurrando sua carroça entupida com aquele doce gostoso! Comprávamos e ele sempre caprichava na cobertura de leite condensado! Eu ainda não sabia, mas hoje posso dizer que comer aquele cuscuz depois de um dia todo brincando e tomando banho de mar era a perfeita tradução da palavra felicidade na vida de um moleque como eu...
Hoje eu lembrei disso porque fui à praia. Fui à Barra da Tijuca pois, como disse, as praias da região de Sepetiba não são mais balneáveis. E lá, diante do mar puro - e delicioso - da Barra, vi que o Choque de Ordem da Prefeitura do Rio agora impede que delícias como o cuscuz do tempo da minha infância sejam vendidos à beira-mar. Também sumiram as empadinhas e o tradicional queijo-coalho. As intenções da Prefeitura parecem as mais nobres, mas me fizeram notar que o Rio perde um pouco de sua identidade com essas novas medidas. E lá, na Barra, senti muito orgulho de ter podido viver tudo isso na minha saudosa infância na praia de Dona Luísa...

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