terça-feira, 15 de março de 2016

E o Brasil?

Copacabana, 13 de março de 2016

Jornais, revistas e sites não se cansaram de apontar as manifestações do último domingo como as maiores da história do país. Fala-se em 3,6 milhões de brasileiros nas ruas, pedindo o fim da corrupção, o impeachment de Dilma Rousseff e a abreviação do governo petista.
Toda manifestação é válida, legítima e merece, portanto, respeito. Vivemos numa democracia e ela pressupõe a liberdade. Pressupõe que toda a pluralidade seja valorizada. A meu ver, no entanto, a sociedade comete um erro ao se voltar contra um governo e um partido, quando a lutar maior - e mais justa, creio - seria contra todo um sistema político que favorece essa incrível máquina produtora de escândalos. De nada vai adiantar depor um governo e eleger outro; se o sistema permanecer igual, os mesmos vícios que nos acompanham desde que o Brasil é Brasil também hão de se manter. 
Além disso, ao olhar o naipe das figuras da oposição que tentam surfar na onda de indignação coletiva, tenho certeza de que não está posta uma solução para o impasse do país. O que temos é um grupo político tentando se estabelecer, apesar de derrotado nas últimas eleições. E, para isso, não demonstra o menor pudor; ameaçando, inclusive, obstruir toda e qualquer votação no congresso nacional.
E o Brasil assiste, calado.
Finge não ver.
Aliás, e o congresso? Alguém já parou pra pensar no que tem sido feito no parlamento neste ano? O que têm votado os deputados e senadores? O presidente da câmara anunciou ontem que o processo de impedimento da presidenta poderá tramitar em, no máximo, 45 dias. Apressado, este Cunha! Pena que a pressa seja seletiva, visto que já se perdeu as contas do número de manobras utilizadas para postergar o processo que o pretende punir em decorrência das inúmeras denúncias que pesam sobre suas costas.
E o Brasil assiste, calado. 
Finge não ver.
Ando bem pra baixo. Fiz jornalismo e estou assistindo a uma violenta degradação do papel da imprensa na sociedade. Trabalho com Educação e tenho percebido, por meio de depoimentos como esse e de inúmeros outros, aqui no Facebook, a falta que uma formação sólida traz para o discurso político em nosso país. É tudo de uma inconsistência desesperadora...
No Brasil de hoje, os mais jovens não lembram do que é crise. Não sabem que vivemos tempos em que os preços dos produtos eram remarcados diariamente nos supermercados e lojas. Não sabem que shopping era coisa de rico. Que telefone era bem, declarado até em imposto de renda. Não lembram do tempo em que a taxa de desemprego batia os 12% da população economicamente ativa. E muito menos lembram que já convivemos com uma inflação na casa dos 80% ao mês.
Claro que estamos vivendo um momento difícil. É óbvio que o governo tem erros. Mas me parece muito mais óbvio que as demais forças políticas estão articuladas para impedir que os rumos sejam corrigidos. Para impedir que a presidenta - legitimamente eleita - tenha condições de governar. E o povo brasileiro, bombardeado por um noticiário que, espero, um dia será discutido nas Faculdades de Comunicação como péssimo exemplo de jornalismo; parece confortável no papel de papagaio, repetindo o que vê na TV, lê no jornal ou nas manchetes compartilhadas no Facebook.
Um rapaz homossexual dizer que vota no Bolsonaro é a síntese desse momento. É o triste resumo de uma sociedade que não lê, não interpreta...não reflete. Uma sociedade que não consegue ir além do que está na superfície, incapaz de questionar o que há nas entrelinhas. É como se, no século XVI, um negro escravizado defendesse, "voluntariamente", o capataz a lhe chicotear. A diferença é que não estamos escravizados.
Ou melhor: estamos! Somos escravos da ignorância generalizada...
E o Brasil assiste, berrando.
Vai pra rua histérico, sem saber que pode estar deitando na cama do inimigo...

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