domingo, 15 de abril de 2007

Crônica de uma micareta...

Ivete cantava, linda, toda vestida de dourado. Ao meu lado, um pity-bobo inalava lança-perfume sem parar. Em intervalos cada vez mais curtos, aspirava o líquido que tinha borrifado em parte da camisa. Em pouco tempo, já nem abria mais os olhos, balançava ao sabor do vento. Sabe Deus porque prosseguia de pé, motivo de chacota da turma que o acompanhava...
Ivete fazia farra: "Pode empurrar que eu deixo", disse, numa ordem muito confortável pra quem está em cima de um trio-elétrico, longe do tumulto da multidão. Tudo bem, ela pode. Tem o poder, como diz o refrão de uma das músicas de seu medley funkeiro. "Vou cantar uma lenta, pra quem ainda não pegou ninguém essa noite", disparou a baiana. E tome beijo por todo lado!
Aliás, o beijo-micareta é algo que se faz digno de estudo. Ou melhor, não só o beijo, mas todo o processo que culmina (ou não) com a carícia. Curioso ver os caras malhadões, apaixonados pelos próprios bíceps e peitorais, chegando nas mocinhas e "dichavando", "mandando o H". E curioso ver como as mocinhas reagem às investidas: atracadas aos predadores, mas negando veementemente qualquer pedido de beijo. Eles insistem: não aceitam uma negativa depois de tanto sofrimento nas academias. Por vezes, levam a melhor. Mas por outras - e muitas outras - chegam a perder cinco, dez minutos de suas vidas em troca de um "não". Mas são sagazes, não desistem. Até porque, logo depois do não, pode pintar um sim. Um sim dito pelo olhar da menina alegre, rebolativa, que chega, abraça e entrega os lábios ao saradão recém-chutado pela "moça-alvo" de dois minutos atrás. E vem o beijo, e é longo. E quando termina, não há o que dizer. Nem oi, nem tchau. A linguagem corporal é a que manda: os corpos se afastam e, sem uma nova troca de olhar sequer, o rato-de-academia e a gatinha-de-micareta se despedem.
Em volta do trio, 15.000 pessoas. Lá em cima, uma cantora explodindo de felicidade, um festival de hits festeiros. E cá embaixo, curtindo muito a festa, um blogueiro que já começa a perceber que seus dias de micareta podem estar chegando ao fim...

4 comentários:

  1. Poucas vezes fui às micaretas, mas posso dizer que fui muito às festas mineiras - Ouro Preto, Boa Esperança, Diamantina etc. Acho que me adaptei melhor às mineiras do que às cariocas ;-)
    Tanto é que tive mais namoradas "estrangeiras" do que do Rio. Taí uma boa temática, qual a diferença entre as cariocas e as demais?

    Abraços.
    http://erotico.blog-se.com.br/

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  2. Os meus dias de micareta acabaram muito antes de micareta existir. Re re.

    ;)

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  3. Lia, micareta, pra mim, é algo que se resume a um nome: Ivete Sangalo. Não tenho estômago para cheiros, babados, chicletes, asas e afins...

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  4. Festas mineiras? Gostei da dica, Carlos!
    Abraço!

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