terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Hildegard Angel, Silvia Pilz e as polêmicas do dia...


A produção de duas colegas de profissão assombrou boa parte do meu dia. Hildegard Angel escreveu em seu site sobre sua reação diante dos arrastões que enfeiaram o domingo de verão nas areias de Ipanema. Sob o impacto das tais cenas, a jornalista sugeriu que, em dias mais movimentados, ônibus vindos da Zona Norte fossem impedidos de chegar à Zona Sul. E mais: caso a medida não se mostrasse eficaz, Hilde defendeu a cobrança de ingresso para as praias do Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon. Tá bom pra você?
Mas não parou por aí. Nas páginas de O Globo, Silvia Pilz publicou em forma de artigo um texto que mais parece saído de um dos monólogos de Caco Antíbes, o célebre personagem de Miguel Falabella no extindo "Sai de Baixo". Caco, vocês lembram, odiava pobres. E o texto da colunista faz crer que ela não está longe disso...
Enxovalhada pelas críticas, Hildegard Angel voltou ao site e escreveu o que, segundo ela, seria uma versão melhorada, com uma "revisão de conceito". Como os críticos não se calaram nem assim, a jornalista radicalizou: deletou a postagem e publicou no lugar a frase: "Acabou-se o que era doce, a vitrine cansou de levar pedrada por hoje...". Mas no facebook de Hilde, as pedradas continuam vindo de todas as partes.
Silvia Pilz não se manifestou. Em seu Facebook, respondeu a um dos (inúmeros) críticos dizendo que não se arrependia de "escrever com humor". Pois é, pode até ser, mas não prevejo uma noite fácil para as duas...
O meu assombro diante dos textos de Hildegard Angel e Silvia Pilz tem razão de ser. Sou mal acostumado, admito. Pequeno, lá pelos 9, 10 anos, lia Artur da Távola nas páginas do Caderno D de "O Dia", jornal que meu pai lia diariamente. No mesmo "O Dia", lia o Ronaldo Bôscoli falar de coisas que eu ainda não tinha maturidade pra entender perfeitamente. Mas lia. Admirava. Já devia ser um sinal da minha vocação esse apreço por quem sabia tratar bem as palavras...
Cresci lendo mais e mais. Maior - e, sobretudo, depois de já profissional - virei um fascinado pelos textos de gente como Veríssimo, Zuenir Ventura, Tutty Vasques, Xexéo, Dorrit Harazim, Elio Gaspari, Joaquim Ferreira dos Santos. Com o passar dos anos, tive a sorte de virar amigo de gente que já admirava pelo trato cuidadoso com as palavras, essa nossa matéria-prima tão cara. Gente como Fernando Molica e Flávia Oliveira. E, mais recentemente, tive a sorte de conhecer novos talentos desse gênero, como o Gregorio Duvivier. Por isso, sem sequer refletir sobre, associei desde sempre que colunista é aquele que tem o que dizer e sabe como dizer com clareza, beleza, respeito, coerência e ética. Colunista é quem tem compromisso com a sociedade; com sua melhora permanente; compromisso de combater preconceitos; de nos lembrar a todos dos momentos ruins que a história nos reservou para que possamos evitar vivê-los novamente lá na frente. Colunista é quem tem coragem de tocar nas velhas feridas sem que outras novas sejam abertas. Colunista é alguém que tem interesse por tudo. E que, exatamente por isso, parece-me um alguém sempre tão interessante... Triste constatar que, de uns tempos pra cá, pra ser colunista essas habilidades não parecem tão fundamentais. E mais triste ainda é perceber que esses profissionais que ocupam os espaços nobres dos jornalões influenciam tanta gente com seus textos cheios de preconceitos, estereótipos e desserviços. E depois os jornais não sabem de onde vem a onda crescente de insatisfação do público. Não sabem o porquê de estarem perdendo assinantes. E não sabem a origem da crise...

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