sexta-feira, 23 de março de 2012

Obrigado, Chico!

Alberto Roberto: meu personagem preferido, o "símbalo sescual" da incrível galeria de tipos criados por Chico Anysio
Quando eu era moleque, as caretas de uma das aberturas do "Chico Anysio Show" me metiam medo. Pudera! Esse cearense, célebre por criar tantos tipos, surgia na tela esticando orelhas e nariz, arregalando olhos e deformando a testa. Obras dos efeitos de edição da época, claro! Mas o susto provocado pela vinheta do programa logo dava lugar às crises de riso propiciadas por tantos personagens, tão ricos e diversos. Tão plurais e tão singulares. 
Obras de gênio!
Obras de Chico!
Eu ria de Haroldo, o hetero mais gay que a televisão brasileira já mostrou. Ou seria o gay mais hetero? Ria das mentiras de Pantaleão e das gírias do Jovem. Dava risada das peripércias de Bento Carneiro, vampiro brasileiro - e de sotaque mineiro! Tinha verdadeiras crises de riso com o "símbalo sescual" Alberto Roberto, galã de redinha nos cabelos e pai da canastrice. Das loucuras do Coalhada e das eternas rusgas de Nazareno com sua mulher, sempre maquiada de modo pouco ortodoxo.
Mas Chico não me fez apenas rir. Também aprendi muito com esse grande mestre do humor, que foi descansar hoje, depois de lenta agonia. Com Chico eu aprendi muito sobre generosidade, ao vê-lo servir de escada para tantos colegas, apesar de toda a sua genialidade, quando se  travestia  de professor Raimundo. O Bozó, o global mais orgulhoso que já existiu, me fez ver como o deslumbramento é algo que não quero para a minha vida. Por trás dos vastos bigodes de Justo Veríssimo, descobri, ainda criança, que a maior chaga do meu país é aquele tipo de político que tem total desprezo pelo povo. Nos cultos de Tim Tones, vinte e tantos anos atrás, Chico me ensinou como pode ser perigosa a mistura entre fé, fanatismo e dinheiro. Alguém quer lição mais atual?
Hoje, a morte de Chico Anysio me fez lembrar de tudo isso. E dos discos dele que meu pai tinha lá em casa. Da minha infância, da minha família, das brincadeiras com amigos - onde tantas vezes e pelos mais diversos motivos repeti e ouvi repetirem seus bordões inesquecíveis. Chico é peça sem reposição. 
E a esse grande artista, cabe apenas o meu muito obrigado...

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